sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Tempos Sombrios ou Tempos Luminosos?



Sol das oito horas da manhã do verão. Raios claros e intensos incidem sobre o concreto e o vidro. Ao longo do vale os edifícios rompem o asfalto, carros seguem em muitas direções. Meu imaginário vagueia em busca de contornos alternativos, do frescor das matas e dos palácios orientais. Se eu tivesse outro sonho feliz de cidade, o que acharia de São Paulo? Caminho pelo centro da cidade. Uma estrutura de rede de TV vela em frente à sede da prefeitura. Lá dentro está o prefeito, cujas decisões reverberam em muitas vidas. Apoiado pela maioria (afinal, foi eleito por ela), para ele se voltam olhos e ouvidos da cidade. Todos querem ouvi-lo, todos esperam que ele tenha idéias e propostas para que algo aconteça. A câmera da TV está à espreita de um grupo de manifestantes que, com suas faixas e bandeiras vermelhas, desce de uma van. A manifestação tem hora e data para acontecer, e avisou a rede de TV. A oposição caminha dentro do espetáculo esperado. Quer o prefeito ceda ou não, a vida continua.
Vejo os moradores de rua. São o resíduo de uma história de escolhas políticas de homens de poder. Penso nos homens de poder de quem de alguma forma estou próxima, por assim dizer. Sua resistência em medidas transformadoras. Em ciência política chamam a isso de incrementalismo – as decisões são tomadas dentro de um espectro em que há continuidade. Penso na Ágora. Quando fazíamos política para decidir nosso destino; todos, em praça pública. Quando a possibilidade de inventar o novo estava posta dia-a-dia, pois aí residia a nossa humanidade: na capacidade de invenção da nossa própria vida, do nosso próprio destino. O argumento de que na Grécia Antiga nem todos participavam da Ágora não refresca a nossa situação. Embora votemos todos a cada eleição, que poder temos de transformação, de invenção, de criação do nosso destino? Continuo caminhando. As lojas convidam ao consumo, como se me dissessem, “Consuma e viva para consumir. Não pense em mais nada.”. Na bolsa de valores decisões importantes são tomadas a cada dia. Passo em frente à bolsa todos os dias, e não tenho nenhuma gerência sobre o que acontece lá. A bem da verdade, mal tenho poder na “repartição” em que trabalho. Estamos vivendo tempos sombrios, desde a Segunda Guerra? Significa dizer que as duas últimas gerações estão com os olhos velados. Recuso-me a acreditar que meu destino seja sombrio, pois o sonho e o pensamento, o desejo e a consciência pulsam em mim. Talvez este momento seja apenas mais uma cortina, a obscurecer a luminosidade que há por trás de tudo.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Talvez...

Ecstasy by Alex Grey


Se eu me mantiver contemplativa, talvez caminhe enxergando a vida pelo caminho. Talvez eu veja a beleza de um canteiro florido (ou mesmo de um canteiro com mato). Talvez eu observe as pessoas sem julgá-las, e veja a beleza de seus atos. Talvez meu pensamento possa estar nessa contemplação, e não ocupado com as providências cotidianas (tampouco com aquelas providências hipotéticas). Talvez eu re-encontre a singela alegria de viver a todo momento, e não apenas quando tenho a companhia de quem amo, ou quando medito no ser crístico. Talvez eu consiga amar o tempo todo, um amor traquilo e desinteressado. Talvez eu, afinal, tenha a consciência da harmonia que existe no mundo a todo instante, e anda por aí mais feliz.