quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Cultivar-se

Ontem, uma amiga me falou sobre o ato de "cultivar-se". Fiquei com isso na cabeça e fui procurar auxílio no Aurélio. Cultivar no dicionário seria: "Fertilizar (a terra) pelo trabalho; 2.Dar condições para o nascimento e desenvolvimento de (planta). 3.Fig. Procurar formar; desenvolver: cultivar o gosto pelas letras. 4.Aplicar-se ou dedicar-se a: cultivar as artes. 5.Procurar manter ou conservar: 6.Formar, educar ou desenvolver pelo estudo, pelo exercício. Em todas as definições, um denominador comum para as ações: o "eu" sujeito" que produz ou cria as condições para que algo se desenvolva. Alguém que oferece os meios para o desabrochar de si e dos demais: se cuidando, se acarinhando, crescendo e gerando uma nova realidade. Sinto que de alguma forma tenho feito isso, apesar de me sentir incapaz de prever que tipo de fruto vai sair daí... O fato é que nenhuma mudança é previsível, mas é estranho não saber que rumo posso dar a partir das minhas próprias escolhas. Sei que não tenho aptidão para lidar com as coisas práticas do dia-a-dia. Por isso, talvez, seja mais fácil me refugiar num mundo mais abstrato de idealizações e de subjetivações. No entanto, o que fazer com isso é uma questão. Num mundo de respostas rápidas e demandas objetivas, essa demora por um plano, um projeto ou uma escolha pode ser fatal. Sinto-me deslocada num deserto, sem a ilusão de um óasis. Mas cultivar-se pode signivar também resistir. E para mim, resta seguir e fazer desse cultivo o meu único objetivo imediato.

14 comentários:

Diana disse...

Em 2007, a minha promessa de ano novo foi me dedicar melhor aos meus amigos do coração -- promessa que, acredito, cumpri de maneira razoável. Para 2009, pretendo não só aprofundar isso, mas também levar a sério o "cultivar-se". Bom texto, Biba. Inspirador.

Redneck disse...

Diana, a parte que me toca nesse latifúndio - me dedicar aos amigos ... - está por ser arada, já que falaram em cultivo. Minha terra, no que diz respeito ao cultivo, está praticamente virgem de vocês, suas lavradoras corporativistas. Beijo!

Beatriz Saraiva disse...

Diana, fico feliz de estarmos com tantos objetivos comuns. Espero que isso nos ajude de alguma forma a desabrochar algo melhor (para ambas)... Redneck, meu querido, quando eu quis que vc colocasse sementinhas no meu terreninho vc recuou, né? Agora, vem com essa história de terreno árido...sei...

Beatriz Saraiva disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Luísa disse...

Maíra, a metáfora do cultivo é muito bela. Certamente você vem semeando muitas afabilidades, pensamentos corajosos e graciosos pontos de vista sobre a vida em todos os espaços em que temos o prazer de compartilhar. Desejo que você colha os frutos deste cultivo, com sabedoria e regojizo. Beijo grande.

Beatriz Saraiva disse...

Luisa, vc é sempre tão doce e nobre que me deixa cheia de esperanaças em relaçaõ ao futuro...

Redneck disse...

Lavradoras ternas, cheias de troca de sementinhas, brotinhos, docinhos, lalazinhas e quetais: essas lavouras a que vocês se referem com tanta emoção são arcaicas. As novas lavouras não se dão ao trabalho do cultivo. São transgênicas, transgenders, OK? Eu amo vocês e as odeio em simultâneo e odeio principalmente essa reuniãozinha de filhas da mãe-terra. Parece até um festival celta de adoração à lavoura! Só por que hoje é Halloween, liberaram-se, não? Beijo e adeus!

Anônimo disse...

Adorei a denominaçao "lavradoras corporativistas" do nosso querido e ciumento amigo Red! Pior foi dizer que nossa lavoura é arcaica!A Red, por favor, né? E quer saber de uma coisa, nada de lavoura! O negocio é prato congelado, comida industrializada!

Beatriz Saraiva disse...

Gente,
Ele disse "Eu amo vocês" !!!!!
A primeira vez em 15 anos... Não é que as lavouras arcaicas tiraram roçado da cinza?

Redneck disse...

Eu disse amo e odeio, que fique claro. Em igual medida e alqueires. Não se precipitem em conclusões apressadas. Nada que um bom par de arados não faça sulcos profundos nessas terras áridas em que vocês, por vezes, se convertem. Terras áridas como conceito quando não as compreendo, a todas, mulheres, como se não compreende, no mais das vezes, terras estrangeiras. O comentário é mais para ratificar minha rudeza do que qualquer outra coisa. E, Charlotte, você não pode dizer justamente a mim, do Manifesto Terreiroir, que deixe o solo da lavoura para consumir o industrial. Please, em que mundo estamos? Sirigaitas assanhadas! Beijo!

Beatriz Saraiva disse...

Red, sei que não tem nada a ver uma coisa com a outra, mas vc tem alguma receita de cuzcuz marroquino? Fiquei com vontade de preparar para vcs um dia desses, mas não sei fazer...

Luísa disse...

Terras férteis e sem cercas. Que dão de tudo. Goiaba, tamarindo e jabuticaba. Chuchu e banana da terra. Com garoa, chuva ou tempestade brotamos sempre. Brotos, árvores, capim gordura que seja. Aramos o solo das nossas mentes e corações por devoção, por desejo, para sentir o pulsar da vida na terra. Você é nosso cactus raro, Red.

Anônimo disse...

hahahaha Maira, muito pertinente a sua pergunta no meio dessa discussao tao frutifera!

Beatriz Saraiva disse...

O importante é participar, Charlotte. Já comprei os ingredientes para o cuscuz. Quem vai querer?