segunda-feira, 9 de março de 2009

A experiência feminina




A experiência de ser mulher é reveladora de uma essência ou de modos de vida socialmente instituídos ao longo do tempo?
Responder a esta pergunta é responder politicamente sobre o que é ser mulher.
É uma pergunta que me faço recorrentemente e para a qual não encontro resposta definitiva. Neste sentido, é uma provocação.
Daí que ser mulher para mim é uma busca constante. Uma busca por sentidos, pelo prazer, pela liberdade, pelo desenvolvimento da razão e da espiritualidade, pelo acolhimento, pelo carinho e pela confiança.
No fundo, no fundo, a mulher não existe, como disse Lacan. Existem mulheres, com suas histórias pessoais, seus sonhos e desilusões, suas conquistas e suas buscas.
As identificações, quando existem, são afetivas e políticas. Talvez ser feminista seja ser humanista, afinal, e repudiar a violência e o preconceito, quer elas surjam como machismo, como racismo ou como homofobia.
Para pensar, fica esta bela citação de Rilke:


"A mulher em que a vida habita mais direta, fértil e cheia de confiança, deve, na realidade, ter-se tornado mais amadurecida, ... Esta humanidade da mulher, levada a termo entre dores e humilhações há de vir à luz, uma vez despidas, nas transformações de sua situação exterior, as convenções de exclusiva feminilidade. Os homens que não a sentem vir ainda, serão por ela surpreendidos e derrotados. Um dia ali estará a moça, ali estará a mulher cujo nome não mais significará apenas uma oposição ao macho nem suscitará a idéia de complemento e de limite, mas sim a de vida, de existência: a mulher-ser-humano. Esse progresso há de transformar radicalmente a vida amorosa hoje tão cheia de erros numa relação humana, além de macho para fêmea. E esse amor mais humano assemelhar-se-á àquele que nós preparamos lutando fatigosamente, um amor que consiste na mútua proteção, limitação e saudação de duas solidões."
(RAINER MARIA RILKER, 1904)
Imagem: Di Cavalcanti, Mulheres Protestando

Um comentário:

Anônimo disse...

Li seu texto e pensei sobre ele... Sobre nossas perguntas fixadas em estruturas pendulares. Oscilamos entre um extremos facilantes. Ora quase acreditamos na essencia sentimental, outra hora seduzidos pelo discurso crítica da ciência social.
Hoje nao peço mais radicalismo. Talvez sejam bocós. Estou na onda das livres associações, quase sem censura.
Para fugir do seu pêndulo, imaginei uma passeata de mulheres de borracha. Não sei o qual o protesto gritam de suas bocas redondas. Não sei quem as oprime ou quem deve salvá-las.
Marcham macio e obtusas, as pobres.
Marcham subjulgadas? São infelizes? Se as mulheres de borracha metem,pq nao sorriem?