Ontem, uma amiga me falou sobre o ato de "cultivar-se". Fiquei com isso na cabeça e fui procurar auxílio no Aurélio. Cultivar no dicionário seria: "Fertilizar (a terra) pelo trabalho; 2.Dar condições para o nascimento e desenvolvimento de (planta). 3.Fig. Procurar formar; desenvolver: cultivar o gosto pelas letras. 4.Aplicar-se ou dedicar-se a: cultivar as artes. 5.Procurar manter ou conservar: 6.Formar, educar ou desenvolver pelo estudo, pelo exercício. Em todas as definições, um denominador comum para as ações: o "eu" sujeito" que produz ou cria as condições para que algo se desenvolva. Alguém que oferece os meios para o desabrochar de si e dos demais: se cuidando, se acarinhando, crescendo e gerando uma nova realidade. Sinto que de alguma forma tenho feito isso, apesar de me sentir incapaz de prever que tipo de fruto vai sair daí... O fato é que nenhuma mudança é previsível, mas é estranho não saber que rumo posso dar a partir das minhas próprias escolhas. Sei que não tenho aptidão para lidar com as coisas práticas do dia-a-dia. Por isso, talvez, seja mais fácil me refugiar num mundo mais abstrato de idealizações e de subjetivações. No entanto, o que fazer com isso é uma questão. Num mundo de respostas rápidas e demandas objetivas, essa demora por um plano, um projeto ou uma escolha pode ser fatal. Sinto-me deslocada num deserto, sem a ilusão de um óasis. Mas cultivar-se pode signivar também resistir. E para mim, resta seguir e fazer desse cultivo o meu único objetivo imediato.
quinta-feira, 30 de outubro de 2008
sábado, 25 de outubro de 2008
quarta-feira, 22 de outubro de 2008
Velha canção
Hoje vou contra o sistema
A propaganda
O aderente mais perfeito
Descobri a minha angústia
E a angústia não é só minha
A cortina se abre
E o mundo continua velho
É o mesmo presidente
O mesmo caos
A mesma asfixia
Tudo velho, nada de novo
"Quero derrubar as cercas
Em que insisto em me defender"
O cão foi despertado:
Feroz, vivo, fugaz
E é ele que eu quero em mim
Porque é preciso ser assim
Ofereço a rosa:"A estúpida e inválida
A rosa com cirrose, a anti-rosa atômica"
Que ainda é nova
Para os que querem nos destruir
terça-feira, 21 de outubro de 2008
terça-feira, 14 de outubro de 2008
Viagem ao Centro dos Mundos
Estive pensando sobre viagens. Não somente aquela que nos remete a outros espaços físicos, mas as viagens que nos levam para dentro de nós mesmos. Entre uma e outra, não sei dizer a que mais me instiga. À medida que planejo minha viagem para New York, entro num período particulamente sensível aos devaneios intelectuais. Estou lendo. Lendo muito e cada vez mais longe de uma verdade plausível sobre qualquer coisa. Às vezes, tenho medo que essas viagens me levem a um caminho sem volta, longe da razão e da comunicação com outros seres. Mas, o fato é que nessa trajetória estou encontrando o meu não-lugar no mundo. Uma sensação estranha de não pertencimento, de dupla cidadania entre duas searas: da razão e a do devaneio. Viajar através das mentes, subjetividades e discursos alheios tem sido um prazer enorme. Talvez, elas me ajudem a lidar de forma prática com a vida real. Ou, ao contrário, destruam qualquer possibilidade de realidade. Seja aqui ou em Manhattan, o fato é que uma boa obra te faz pensar sobre que discurso é você. Nessa semana, li "Plataforma" de Michel Houllebecq e assisti um filme francês que não me lembro o nome. Os dois falavam praticamente sobre a mesma coisa: uma situação de individualismo extremo, em que as relações só se dão se fetichizadas. Nessas duas histórias, relações simples como a amizade se tornam peças raras, que precisam ser descobertas através de cursos, excursões, palestras e livros de auto-ajuda. Estou longe dessa situação limite, mas confesso que perdi o interesse, de um modo geral, pelas pessoas. Tenho me limitado a um número certo de amigos, que tenho a certeza de manter um diálogo - e uma convivência - de bom nível. Tudo muito agradável, sem sustos e sem decepções. As outras pessoas - os diferentes, no caso - simplesmente não me interessa conhecer, estabelecer contato ou simplesmente me aprofundar num relação. Por isso, é mais fácil o envolvimento emocional com depressivos, alcóolatras e os comprometidos. Nada de riscos, de sentimentos desperdiçados ou de reações extremas. Tudo aparentemente sob controle e com o contato mínimo para manter os hormônios equilibrados. Talvez, seja por isso que um parágrafo do livro de Houllebecq me tenha tocado particularmente: "como europeu abastado, eu podia comprar a baixo preço, em outros países, alimento, serviços e mulheres; como europeu decadente, consciente da minha morte próxima e plenamente aberto ao egoísmo, não via motivo para me privar de tudo isso. Mas tinha consciência que tal situação não podia continuar indefinidamente, pois pessoas como eu não são capazes de assegurar a sobrevivência de uma sociedade... Mudanças iriam ocorrer, já estavam ocorrendo, mas eu não conseguia me sentir implicado nelas; minha única motivação autêntica era tentar sair daquela bagunça o mais rápido possível". Enquanto isso, minha viagem segue indiferente as oscilações da bolsa...
Barulho Cabeçudo
O mais legal de assistir aos cabeçudos do "Art Ensemble of Chicago" na última sexta-feira não teve, claro, nada a ver com a apresentação. Além de estar entre muito bons amigos, o incrível foi receber essa mensagem no celular, no meio do show: "Flavinha, saí do teatro para encontrar o XYZ. Que som! Amei! Me avise onde vão comer".
Aninha, você é uma peça. Figura rara e incrível.
P.S.: Evinha, obrigada mais uma vez.
sexta-feira, 3 de outubro de 2008
Like A Prayer
Caros leitores,
Se alguém tiver ou souber de alguém que tenha um ingresso para o show da Madonna do dia 20 de dezembro, arquibancada vermelha e tope vendê-lo (sei lá, de repente essa pessoa marcou o próprio casamento e esqueceu, descurtiu Madonna, David Banda e cia. ou vai mudar de país), avisem-nos! É urgente!
Se alguém tiver ou souber de alguém que tenha um ingresso para o show da Madonna do dia 20 de dezembro, arquibancada vermelha e tope vendê-lo (sei lá, de repente essa pessoa marcou o próprio casamento e esqueceu, descurtiu Madonna, David Banda e cia. ou vai mudar de país), avisem-nos! É urgente!
Cada militante tem o companheiro que merece...
Antes de mais nada, peço desculpas aos amigos internautas por não ter cumprido minha promessa de fazer um Diário de Campo da campanha eleitoral que participei. A falta de computador e o tempo escasso me impediram de fazer os relatos diários do que vi e ouvi nessa época. Mas, vou tentar resumir o que apreendi nesses dois meses de campanha. Uma coisa já adianto a vocês: descobri que a participação política não se resume a um grupo de militantes reunidos numa praça em um dia chuvoso. Ocupei um lugar privilegiado nos bastidores de uma eleição para perceber que o fazer político não se resume apenas a um conjunto de propostas e de ideologias que rodeiam um candidato. Ela se faz também nas rachaduras desse partido, no duelo entre militantes, nos jogos de poder que envolvem uma eleição. Disso resultam os conchavos, as armadilhas, a maneira sórdida em que um grupo de militantes queima o outro. E entre mortos e feridos, uma campanha para ser ganha. O fato é que numa candidatura o que está em jogo é o acesso ao poder. E se por um lado, há os candidatos tentando conquistar esse espaço no legislativo ou no executivo, por outro, há uma disputa interna nos partidos para saber quem vai ficar do lado certo caso vençam as eleições. Pelo que pude ver, um companheiro pode ser o seu pior adversário em época de campanha. Ele não terá o menor receio em destruir sua imagem, desmoralizá-lo publicamente ou comprometê-lo diante do seu partido e dos outros se você tem mais amizade com o candidato do que ele, por exemplo. E se o candidato está próximo da vitória, maior será a distância entre você e o outro militante. Seu companheiro não terá o menor pudor em espalhar boatos, passar informações para os jornais ou simplesmente boicotá-lo financeiramente para minar sua participação nesse período. Ainda que isso coloque em risco o objetivo maior da campanha: vencer nas urnas. Por isso, numa campanha, não basta conhecer os adversários políticos, é preciso antes de mais nada saber quem são seus companheiros de luta...
quinta-feira, 2 de outubro de 2008
Eleições 2008
Eu costumava ser petista. Mas isso foi antes de o partido se institucionalizar, e abrir as portas para oportunistas de plantão com intenções para lá de duvidosas. Isso foi na época em que eu acreditava que bastava a pessoa ser de um partido para eu poder confiar que seus ideais e propósitos eram os mesmos que eu cultivo há anos: justiça social, métodos democráticos, liberdade de expressão, superação dos preconceitos. Hoje em dia observo tudo com mais distanciamento. Menos paixão e um tanto mais de razão. Alguns teóricos analisam que a política, no sentido de construção de um mundo comum, anda em franca decadência. Afinal, estamos em um mundo de trabalhadores sem trabalho, em que a gestão é cada vez mais importante do que o debate público sobre nosso futuro. É neste sentido que nesta eleição, como, aliás, nas últimas, votarei no candidato a prefeito do Partido Socialismo e Liberdade. Acompanho a trajetória do partido um tanto de longe, mas o bastante para acreditar que os desiludidos do PT membros do PSOL que ainda têm força de militância são sérios e alinhados a propostas alternativas à construção de uma cidade cada vez mais segregada e excludente. Desconheço artimanhas e alianças escusas (diferentemente do que ando vendo dentro do PT) dentro do PSOL, concordo com as propostas urbanas de prioridade às áreas sociais e democratização do uso da cidade. É porque desejo uma São Paulo mais lúdica, alegre e com equipamentos acessíveis a todos que votarei novamente para vereador no arquiteto e urbanista Nabil Bonduki. Como vereador, foi responsável pela aprovação do plano diretor na cidade e está bastante engajado com políticas para habitação e para a cultura no âmbito municipal. Outra opção é o vereador Carlos Neder, médico sanitarista, com atuação na defesa da saúde pública.
Posso dizer com segurança que conhecer mais de perto a política partidária e circular por alguns meios ligados aos dois maiores partidos da cidade, (o PT e o PSDB) me tornou uma pessoa mais desiludida com esse caminho partidário de encaminhamento da agenda pública. Mas não é por isso que vou deixar de votar de acordo com a minha consciência.
http://www.ivanvalente50.com.br/campanha/CN01/programa/Propostas_para_Sao_Paulo.htm
http://www.nabil.org.br/
quarta-feira, 1 de outubro de 2008
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