quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Yes, We Can



Uma amiga minha voltou de Nova York há um mês e a única coisa que pedi a ela foi uma camiseta. De Obama. Odeio pensar em política e praticá-la sem conservar intacto o meu senso crítico. Mas como ficar impassível diante da possibilidade de ver o primeiro negro eleito no país mais importante do globo? Um país onde, há cerca de cinqüenta anos, negros eram obrigados a ceder seus lugares em transportes públicos (eu disse públicos), parte deles não votava e o primeiro deles a entrar em uma universidade teve de fazer isso escoltado pela polícia?
Não quero ferir sensibilidades, nem tampouco pedir que esqueçam o que ouvi e escrevi: não faltei às aulas de antropologia e sei que, em outras instâncias, o conceito de raça é uma grande bobagem. Mas essa bobagem tem sido manipulada de forma eficaz há algum tempo. Com resultados trágicos a um grupo de pessoas diferenciadas pela pele -- que, concordo, não são apenas vítimas passivas.
Porque vivemos em uma sociedade movida também por símbolos (como bem me lembrou Aramis), me sinto segura em dizer que, pelo menos nessa seara, algo incrivelmente importante -- histórico -- aconteceu hoje. E que esse algo vai ter impacto para muito além do Malcolm X Boulevard (Harlem, NY).
Por aqui, ter não só Obama, mas uma família negra na Casa Branca (o trocadilho foi sem intenção), pode ser inspirador. Para qualquer um. Domésticas, jovens negros que não passaram pela porta dos colégios e universidades onde estudei, trabalhadores braçais, pelés, sacis, para mim e para você também. Alarga nossos horizontes para além dos elevadores de serviço, entende?
Pense na sua caixa de estereótipos reservada aos negros (eu já ajudei). É ela também que está sendo remexida hoje. E eu desejo que seja uma revolução.

3 comentários:

Luísa disse...

Que lindo e emocionante texto, Diana. A eleição de Obama certamente é um marco, para remexer os estereótipos em relação à cor da pele. E por isso ela mexe com todos nós, e com o que cada um de nós acredita que seja humanidade e liberdade: respeito a negros, judeus, asiáticos, ciganos, indígenas, homossexuais, mulheres, latino-americanos, adolescentes, e a quaisquer manifestações de simbologias diferentes do finalmente em declínio imaginário patriarca, branco e ocidental que povoou o imaginário do planeta por tanto tempo. um respeito concreto. E este é um passo além do exemplo inspirador para todas as crianças, jovens e adultos negros do mundo inteiro. É um passo que nos abre a possibilidade de fazer política de um modo diferente, de pensar o planeta e a humanidade com consciência e responsabilidade. Obama, com suas raízes africanas, certamente abre um campo político de maior sensibilidade às questões dos miseráveis em todo o mundo, não em termos de benemerência mas em termos de direito a ter direitos. Espero que com esta eleição, além de abandonarmos o conceito de raça, abandonemos também o conceito de que o mundo está dividido em três. Que compreendamos que primeiro mundo, segundo mundo e terceiro mundo dizem respeito a um mesmo solo, à mesma dádiva natural e à mesma responsabilidade que um ser humano tem com cada um ao seu lado ou longe de si. Celebremos com muita alegria e responsabilidade este momento tão inspirador na história.

Beatriz Saraiva disse...

Diana,
Adoooooooooooooooorei o texto. Lindo esse final. Fico feliz que finalmente a caixa de estereótipos esteja sendo desarrumada... O Obama é sim um grande simbolo para ser pensado, principalmente, porque, como ele mesmo diz, é pós-racial. Adorei quando ele falou: "Eu não sou um candidato negro. Eu sou marron"...É isso aí. Viva a miscigenação !!!

Anônimo disse...

Yes, I, You, He, she, we CAN!!!!!

confesso: não gostei qdo ele disse que era marrom, (prato cheio). ELE É NEGRO!!!!