"O amor deve ser lido instantaneamente. Não é uma brincadeira de esconde-esconde". A frase tirada do livro "As Damas do Vento", do ator e cineasta Bernard Giraudeau, resume a lógica do livro. Um discurso sobre o amor que é exposto poeticamente, mas em demasia. Onipresente e Onipotente, esse amor se esgota quando preso a verborragia do francês. É pesado demais, denso demais, mesmo que transfigurado por frases de efeito e belas estruturas poéticas. Talvez, o fato do escritor ser cineasta explique o esfoço de dar uma forma ou visibilidade a um sentimento tão abstrato. O que esquece é que o amor não precisa ser explicitado para ser compreendido. Os italianos parecem ter percebido isso melhor do que os franceses. No livro SEDA, de Alessandro Baricco, o amor não é citado uma única vez. E ao mesmo tempo aparece de forma gloriosa, mas sutil. É um livro que privilegia o silêncio. O que não é dito. O que não é sequer imaginado. E ali ele está. Lindamente descrito sem ser sequer chamado. Os dois livros, curiosamente, são ambientados em outras culturas: "As Damas do Vento, na África e América do Sul e Seda no Japão. Talvez, por perceberem que dentro de nosso próprio contexto as distâncias parecem ainda maiores do que as distâncias espaciais. Ou, porque o Outro radical pode ser a melhor forma de entender o que se passa entre duas pessoas numa relação amorosa. Mas, se as personagens vagueiam pelas mesmas fomes, carências e busca de sentido para a vida, são os espaços e os silêncios usados com maestria por Baricco, que transformam a narrativa num reflexo de diversas vidas. São essas lacunas, os constrangimentos, os amores escondidos que tornam esse livro tão especial, sintetizando o silêncio de diversas vozes. Barrico não banaliza o amor. Ele não quer defininí-lo ou entendê-lo. Ele é apenas um fato. Algo que acontece e deve é experimentado, ainda que muitas vezes não seja compreendido. O autor não cede à tentação de estigmatizá-lo. É um texto para ser lido nas entrelinhas e saboreado por quem já viveu o vazio do não-dito.
domingo, 30 de novembro de 2008
quinta-feira, 27 de novembro de 2008
Quando a Idade Chega
Hoje conversava com um amigo que não falava há algum tempo e, dentre os planos que eu disse que fazia para mim mesma, estava o mestrado. Ele educadamente me alertou que eu uso desse discurso há muito mais de cinco anos (ou seja, desde que nos conhecemos) e me disse - não com essas palavras é claro - que nunca movi uma palha para colocar o plano em prática. Ou seja, em poucos minutos de conversa, me dei conta que tenho sonhos que desde sempre não saem do papel. E que eu não faço nada, absolutamente nada, para mudar isso. E que não estou contente!!! Resumindo, acho que a idade chegou. E isso não tem nada (tá, tem um pouco, vai) a ver com os meus 30 e poucos anos. Véééia!!!!
segunda-feira, 24 de novembro de 2008
Os melhores amigos do zodíaco
Talvez seja mera coincidência, mas entre meus amigos mais animados encontra-se uma querida trupe de sagitarianos e sagitarianas. São aquelas pessoas que queremos próximas na mesa de um barzinho, de um café ou de um restaurante, falando com intensidade da vida, da existência no planeta, do capitalismo e do socialismo, ou simplesmente do último modelito das vitrines. Com elas e eles queremos ver os filmes mais polêmicos, as exposições mais aclamadas, os seminários mais candentes, os espetáculos de dança mais emocionantes, as peças de teatro mais cabeças. Com eles e elas queremos debater sobre os livros sérios e os da moda. Queremos falar no nosso trabalho, dos nossos corações, dos nossos pais e até mesmo dos nossos vizinhos. Na presença de um sagitariano ou de uma sagitariana qualquer festa fica divertida. Meus amigos e minhas amigas sagitarianas sempre têm uma escuta atenta, uma observação espirituosa e um comentário inteligente e divertido a respeito dos mais variados assuntos. Dinâmicos, bem humorados, de bem com a vida. São companhias para se ter ao lado, mesmo que meus amigos e as minhas amigas sagitarianas estejam cada vez mais distantes, no tempo e no espaço. Escrever estas poucas linhas é rememorar um pouco de cada um, de conversas singelas e tocantes, de conversas profundas e divertidas. Um beijo Charlotte, Stela, Tâmara, Bio, Georgia, Helena. Cada uma de vocês acompanhou momentos diversos da minha vida, trazendo toda sua alegria e espirituosidade ao meu mundo. Um beijo de gratidão e saudades!
Heartless
Quando "Crazy" estourou estava em Nova York. Lembro da Alê dizendo que amava uma música que não parava de tocar nas rádios. Lembro de Fabian e eu tentando descobrir qual era na base do "lálálá" dela. Lembro ainda do Fabian dizendo que era uma das melhores músicas do ano e que os caras eram muito criativos. E lembro também do meu - óbvio - mau humor discordando completamente de tudo. No fim, acho que eles estavam certos. O Gnarls Barkley ("the odd couple") foi ganhando mais e mais o meu respeito. "Reckoner", do Radiohead, com Cee-Lo cantando é um desespero só. "Crazy" tem uma base que dá vontade de voar. Dê uma olhada nessa faixa aí embaixo. A música é de doer e o clipe mistura, na medida, toda a tristeza e o ridículo que envolve um pé na bunda. O diálogo é muuuito bom, espero que você possa entender. Música e clipe são uma boa tradução daqueles momentos em que perdemos o chão (floorless) e, principalmente, o coração (heartless). Seria legal se o humor não perdêssemos nunca.
quinta-feira, 20 de novembro de 2008
Onde os Fracos Não Têm Vez...
Vi ontem na TV um programa que me pareceu extremamente oportuno para o contexto atual. Não me perguntem o nome porque já peguei o "bonde andando", mas a idéia é colocar uma espécie de "Super Nanny" das finanças organizando o orçamento de uma casa. Nesse programa específico, uma jovem de 25 anos, que morava em NY, estava completamente atolada em dívidas e a super-heroína da economia tinha que tirá-la dessa situação. Quando encontrei o canal - que agora não me lembro qual era - as duas estavam tendo a seguinte conversa:
- Porque você deixou a situação chegar a esse ponto?
- Eu não sei....
- De agora em diante, nunca mais me diga que "eu não sei". Porque você sabe exatamente porque preferiu comprar um vestido ou um carro em vez de pagar as prestações da hipoteca da sua casa.
- Eu achei que como sou jovem ia conseguir sair da situação, dar um jeito. Afinal, é preciso aproveitar a vida enquanto se tem idade para aproveitá-la...
- Não me diga que aproveitar a vida é contrair um empréstimo com as piores condições que eu já vi na minha vida. O que você fez, querida, foi o seu completo suicídio financeiro.
Depois de lágrimas e lamentações, a especialista começa, então, a fazer cortes e mudanças no estilo de vida da personagem. "Meu Deus, como vou viver sem as unhas feitas?". "Eu não posso ficar sem sair com as minhas amigas no final de semana" e blá blá blá. Lógico que como todo reallity show que se preze a garota vai superar vários obstáculos, fazer sacríficios e no final será recompesada porque superou seu fracasso financeiro. Uma pergunta não me saía da cabeça enquanto eu via a cenas: serão os endividados os novos heróis americanos? Afinal, eles têm que lutar com uma monstruosa lógica do consumo, que cria a cada minuto novas necessidades inúteis. Além disso, combater uma ideologia do prazer imediato, de aproveitar a vida ao máximo, sem pensar no futuro. "Don´t worry. Be happy". Agora, o povo americano - e por consequinte toda a sociedade ocidental - está vendo que há, sim, muitos motivos para se preocupar. O estilo de vida americano é incompatível com uma economia equilibrada. A aquisição de bens não gera só status, mas a definição de um papel no mundo, uma identidade. E não ter essa possibilidade é se perder socialmente. Não é à toa, que deixar de fazer as unha para essa moça seja um drama sem precedentes. Mas, aos poucos, a realidade passa ditar novas regras. Foi incrível ver a "personal" das finanças perguntar sobre emprego para a moça:
- Por que você não está trabalhando na sua área?
- Porque eu não me sentia feliz na minha área....
- E o que você ganha nesse outro trabalho está sendo suficiente para pagar as suas dívidas?
- Não.
- Então, vá ser infeliz ganhando dinheiro!
A conversa por mais absurda que pareça não deixa de ser engraçada. Por um lado, a sobrevivência falando mais alto que a realização pessoal. Por outro, a descontrução de uma idéia do trabalho "ideal". Ficou claro que não há sentido em falar de satisfação pessoal numa situação de crise. Por mais conservador que esse diálogo pareça, é muito interessante pensar que a continuidade desse sistema depende exatamente isso. Mesmo que depois se vendam livros de auto-ajuda, filmes sobre a realização dos sonhos e drogas da felicidade...Enfim, cada indivíduo tem que guerrear atualmente contra suas próprias escolhas. E na lógica desse mercado - para que o happy end aconteça - só os fortes sobrevivem...
quinta-feira, 13 de novembro de 2008
La nuit du mercredi
Debaixo daquela chuva torrencial rumei para o CCSP em busca de mais uma experiência com a música erudita contemporânea. Um tanto desconfiada (dormi na última apresentação), esperei o concerto da amiga Lucia Cervini e do querido Horácio Gouveia, enquanto lia numa revista semanal que a maioria dos brancos americanos votou em McCain.
Não é que o concerto surpreendeu?! Felizmente tive o prazer da companhia sempre agradável de Don XYZ. Lúcia arrasou na primeira música, de Flo Menezes. “Focalizações sobre uma série (1980) para piano preparado. No começo confesso que remexi na cadeira esperando uma melodia agradável. Música não era para ser fruição? Não. Música contemporânea é para ser forma, como notou Don XYZ. E foi bacana perceber a coreografia corpo da pianista e piano, chegou um momento que entendi que o barato do instrumentista é entrar em sintonia com o instrumento, tirar os sons mais inesperados (como fazer ranger a corda do piano), e ser o elo entre a mente (um tanto maluca) do compositor, a notação musical e a realização da obra. Se o resultado não agrada nossa expectativa do belo, nos intriga e instiga.
Três vazios de Lao-Tsé (1999) para piano, de Marcos Câmara foi uma música agradável, colorida, em torno de um mesmo tema, e voltou a trazer a sensação harmoniosa de que o piano é um instrumento melodioso.
Crucifixus (2005), de Mário Ficarelli, foi maravilhosa. Começou sombria, e trouxe a dimensão profunda do piano e da música. O som foi cercando o ambiente e crescendo, até tocar, em tons mais agudos, no cerne da alma. Fiquei emocionada. Música é vibração, e seus efeitos em nossa percepção são variados. No caso da música contemporânea, em geral, quando a melodia é quebrada e os compassos são irregulares, o efeito em mim, que sou leiga, é de inquietação. Mas nesta música foi pura fruição, uma viagem pelos sentidos de sobriedade, um conjunto de sombras que se iluminam intensamente a cada acorde.
E então remexo na cadeira novamente. Embora impressionada com a interpretação de Horacio Gouveia, “Cortázar ou quarto com caixa vazia (1999), de Silvio Ferraz, foi um experimentalismo que me causou incômodo. Provavelmente para quem conhece música, o efeito deve estar em se deliciar com as peripécias da forma, com os diálogos entre os períodos históricos. Quanto a mim, ficava pensando, “quando ele vai mudar esse tema?!”. A resistência advém da ignorância, afinal.
Por fim, “Prelúdio” (2004) de Edson Zampronha, retomou a sonoridade colorida e as possibilidades sonoras múltiplas do piano. A última nota durou no espaço, lembrando que o silêncio também é música.
Ficamos nos perguntando o que vem depois da música contemporânea. Será que os compositores decretaram o fim da música? Será que é o entendimento de que a experiência da audição é a experiência da vida contemporânea, com seus ruídos incessantes? Se os românticos louvavam a natureza, os contemporâneos traduzem a inquietação das megalópoles, a ausência de sentido que muitas vezes experimentamos na vida, a impressão de estarmos tão distantes de Deus? Ou será apenas experimentação para quem se imbui verdadeiramente da linguagem da música?
De toda forma foi uma noite encantadora. Obrigada, Lucia e Horácio, pelo convite e por trazer essa musicalidade toda para uma gostosa noite de quarta-feira; obrigada, Don XYZ pela querida e gratificante companhia.
Não é que o concerto surpreendeu?! Felizmente tive o prazer da companhia sempre agradável de Don XYZ. Lúcia arrasou na primeira música, de Flo Menezes. “Focalizações sobre uma série (1980) para piano preparado. No começo confesso que remexi na cadeira esperando uma melodia agradável. Música não era para ser fruição? Não. Música contemporânea é para ser forma, como notou Don XYZ. E foi bacana perceber a coreografia corpo da pianista e piano, chegou um momento que entendi que o barato do instrumentista é entrar em sintonia com o instrumento, tirar os sons mais inesperados (como fazer ranger a corda do piano), e ser o elo entre a mente (um tanto maluca) do compositor, a notação musical e a realização da obra. Se o resultado não agrada nossa expectativa do belo, nos intriga e instiga.
Três vazios de Lao-Tsé (1999) para piano, de Marcos Câmara foi uma música agradável, colorida, em torno de um mesmo tema, e voltou a trazer a sensação harmoniosa de que o piano é um instrumento melodioso.
Crucifixus (2005), de Mário Ficarelli, foi maravilhosa. Começou sombria, e trouxe a dimensão profunda do piano e da música. O som foi cercando o ambiente e crescendo, até tocar, em tons mais agudos, no cerne da alma. Fiquei emocionada. Música é vibração, e seus efeitos em nossa percepção são variados. No caso da música contemporânea, em geral, quando a melodia é quebrada e os compassos são irregulares, o efeito em mim, que sou leiga, é de inquietação. Mas nesta música foi pura fruição, uma viagem pelos sentidos de sobriedade, um conjunto de sombras que se iluminam intensamente a cada acorde.
E então remexo na cadeira novamente. Embora impressionada com a interpretação de Horacio Gouveia, “Cortázar ou quarto com caixa vazia (1999), de Silvio Ferraz, foi um experimentalismo que me causou incômodo. Provavelmente para quem conhece música, o efeito deve estar em se deliciar com as peripécias da forma, com os diálogos entre os períodos históricos. Quanto a mim, ficava pensando, “quando ele vai mudar esse tema?!”. A resistência advém da ignorância, afinal.
Por fim, “Prelúdio” (2004) de Edson Zampronha, retomou a sonoridade colorida e as possibilidades sonoras múltiplas do piano. A última nota durou no espaço, lembrando que o silêncio também é música.
Ficamos nos perguntando o que vem depois da música contemporânea. Será que os compositores decretaram o fim da música? Será que é o entendimento de que a experiência da audição é a experiência da vida contemporânea, com seus ruídos incessantes? Se os românticos louvavam a natureza, os contemporâneos traduzem a inquietação das megalópoles, a ausência de sentido que muitas vezes experimentamos na vida, a impressão de estarmos tão distantes de Deus? Ou será apenas experimentação para quem se imbui verdadeiramente da linguagem da música?
De toda forma foi uma noite encantadora. Obrigada, Lucia e Horácio, pelo convite e por trazer essa musicalidade toda para uma gostosa noite de quarta-feira; obrigada, Don XYZ pela querida e gratificante companhia.
quarta-feira, 12 de novembro de 2008
O dia em que Stipe (não) me convidou pra subir
Minha mãe sempre diz que existem coisas que a gente tem de fazer na hora certa, sob risco de parecermos ridículos. Isso ela falava principalmente quando eu, aos 20, me recusava a usar mini-saias. Ontem, eu me lembrei dessas palavras.
Há umas semanas, eu e amigos decidimos que queríamos muito ver o show do R.E.M, mas não tínhamos como desembolsar as 200 pratas pedidas. Então, elaboramos um plano que parecia bem razoável. Chegaríamos na hora do show e pechincharíamos com cambistas - aqueles seres irritantes, que estão na ilegalidade. O teto seria 100 pilas. Como seriam dois dias de shows, acreditamos que a probabilidade do lance dar certo seria alta. Não deu. Conseguimos um ingresso a 130 reais e só. Como a gente prometeu que não iria rolar frustração (pelo menos aparente), terminamos a noite em uma lanchonete ali do lado. Eis que na volta, cortando caminho pela lateral da casa de espetáculos, um dos nossos some por uma porta de emergência, que parecia dar em lugar nenhum. A comparsa dele foi atrás. Sobramos eu e mais uma, sem muita paciência pra esse tipo de brincadeira. Alguns minutinhos depois e nada. Um deles nos liga, não entendemos nada. Ai ele volta para nos resgatar (isso foi muito fofo da tua parte, PC, muito mesmo). Uns cinco lances de escada depois, Michael Stipe está lá no palco. Ele e "Losing My Religion" e um telão enorme e Obama e a galera delirando. Sim, o risco de parecer ridícula assumindo que fiz uma coisa dessas é enorme - afinal, a adolescência ficou lá lá atrás. Mas foi o "pocket" show na faixa mais incrível que já vi. Agora, só me resta encarar a mini-saia. Antes que seja tarde demais.
Há umas semanas, eu e amigos decidimos que queríamos muito ver o show do R.E.M, mas não tínhamos como desembolsar as 200 pratas pedidas. Então, elaboramos um plano que parecia bem razoável. Chegaríamos na hora do show e pechincharíamos com cambistas - aqueles seres irritantes, que estão na ilegalidade. O teto seria 100 pilas. Como seriam dois dias de shows, acreditamos que a probabilidade do lance dar certo seria alta. Não deu. Conseguimos um ingresso a 130 reais e só. Como a gente prometeu que não iria rolar frustração (pelo menos aparente), terminamos a noite em uma lanchonete ali do lado. Eis que na volta, cortando caminho pela lateral da casa de espetáculos, um dos nossos some por uma porta de emergência, que parecia dar em lugar nenhum. A comparsa dele foi atrás. Sobramos eu e mais uma, sem muita paciência pra esse tipo de brincadeira. Alguns minutinhos depois e nada. Um deles nos liga, não entendemos nada. Ai ele volta para nos resgatar (isso foi muito fofo da tua parte, PC, muito mesmo). Uns cinco lances de escada depois, Michael Stipe está lá no palco. Ele e "Losing My Religion" e um telão enorme e Obama e a galera delirando. Sim, o risco de parecer ridícula assumindo que fiz uma coisa dessas é enorme - afinal, a adolescência ficou lá lá atrás. Mas foi o "pocket" show na faixa mais incrível que já vi. Agora, só me resta encarar a mini-saia. Antes que seja tarde demais.
quarta-feira, 5 de novembro de 2008
Yes, We Can
Uma amiga minha voltou de Nova York há um mês e a única coisa que pedi a ela foi uma camiseta. De Obama. Odeio pensar em política e praticá-la sem conservar intacto o meu senso crítico. Mas como ficar impassível diante da possibilidade de ver o primeiro negro eleito no país mais importante do globo? Um país onde, há cerca de cinqüenta anos, negros eram obrigados a ceder seus lugares em transportes públicos (eu disse públicos), parte deles não votava e o primeiro deles a entrar em uma universidade teve de fazer isso escoltado pela polícia?
Não quero ferir sensibilidades, nem tampouco pedir que esqueçam o que ouvi e escrevi: não faltei às aulas de antropologia e sei que, em outras instâncias, o conceito de raça é uma grande bobagem. Mas essa bobagem tem sido manipulada de forma eficaz há algum tempo. Com resultados trágicos a um grupo de pessoas diferenciadas pela pele -- que, concordo, não são apenas vítimas passivas.
Não quero ferir sensibilidades, nem tampouco pedir que esqueçam o que ouvi e escrevi: não faltei às aulas de antropologia e sei que, em outras instâncias, o conceito de raça é uma grande bobagem. Mas essa bobagem tem sido manipulada de forma eficaz há algum tempo. Com resultados trágicos a um grupo de pessoas diferenciadas pela pele -- que, concordo, não são apenas vítimas passivas.
Porque vivemos em uma sociedade movida também por símbolos (como bem me lembrou Aramis), me sinto segura em dizer que, pelo menos nessa seara, algo incrivelmente importante -- histórico -- aconteceu hoje. E que esse algo vai ter impacto para muito além do Malcolm X Boulevard (Harlem, NY).
Por aqui, ter não só Obama, mas uma família negra na Casa Branca (o trocadilho foi sem intenção), pode ser inspirador. Para qualquer um. Domésticas, jovens negros que não passaram pela porta dos colégios e universidades onde estudei, trabalhadores braçais, pelés, sacis, para mim e para você também. Alarga nossos horizontes para além dos elevadores de serviço, entende?
Pense na sua caixa de estereótipos reservada aos negros (eu já ajudei). É ela também que está sendo remexida hoje. E eu desejo que seja uma revolução.
Por aqui, ter não só Obama, mas uma família negra na Casa Branca (o trocadilho foi sem intenção), pode ser inspirador. Para qualquer um. Domésticas, jovens negros que não passaram pela porta dos colégios e universidades onde estudei, trabalhadores braçais, pelés, sacis, para mim e para você também. Alarga nossos horizontes para além dos elevadores de serviço, entende?
Pense na sua caixa de estereótipos reservada aos negros (eu já ajudei). É ela também que está sendo remexida hoje. E eu desejo que seja uma revolução.
OBAMA: I HAVE A DREAM....
A Vitória de Obama é inspiradora. O novo presidente dos EUA não representa apenas uma nova era, mas uma transformação radical na mentalidade mundial. Barack Obama. Quem imaginaria que um nome desses algum dia estaria nas páginas da História americana? Pois é. Mas o que parecia impossível tornou-se real. Obama é sinônimo de mudança. Mudanças nos padrões, na forma de fazer política e de se pensar a política nos EUA. Depois de oito anos de uma gestão que pensava o governo do país como uma extensão dos negócios de família, os EUA escolheram um homem que não só coloca a política no seu devido lugar, como oferece um governo estrategicamente mais participativo, com uma visão humanitária e que prioriza as questões sociais em detrimento da lógica de mercado. Obama não venceu somente contra os repúblicanos nesse 4 de novembro. Ele é a vitória contra o racismo, a alienação e o conservadorismo. A mudança chegou em todo o Ocidente com essas eleições. Um líder carismático, num país em crise, que desenha um futuro mais otimista para o mundo. Afinal, estamos todos assistindo a realização de um novo - e concreto - sonho americano....
Assinar:
Postagens (Atom)