É inegável que desde há algumas poucas semanas a primavera vêm mostrando suas bênçãos na cidade de São Paulo, na exuberância de suas flores ao ritmo de sua encantadora passarada.
Sempre tive um amor declarado pelos ipês e devo confessar que geralmente meu encantamento pende para os roxos, exóticos e portadores de um quê quase celestial.
Neste indício quase início de primavera tenho me sentido irresistivelmente atraída pelos ipês amarelos, em sua explosiva simplicidade. Ambos continuam animando meus olhares nos caminhos diurnos que percorro, rompendo, vitoriosos, a monotonia da paisagem que pulsa na arquitetura paulistana. Por pura ignorância não cito as outras árvores e flores que proliferam nos canteiros e jardins das casas, no meio-fio, nos parapeitos das janelas. Com elas vêm os pássaros, cujos cantos acolhem meu despertar desde a infância quando pairava, absorta, na sala de aula, buscando o que acontecia janela afora, no jardim, com mais avidez e interesse do que as recomendações da dedicada professora sem quem, aliás, não escreveria linha alguma.
Esse lado idílico dos meus anseios se intensificou na adolescência, quando encontrei a poesia de Alberto Caeiro, e ganhou contornos mais fortemente esculpidos em minhas poucas mais significativas incursões em ambientes ainda não tocadas pela fluidez descontínua da lógica urbana.
Neste indício de primavera reconheço em mim indícios de consolidação de uma primavera interna, por assim dizer. Sem abandonar os arroubos de encantamento que as flores (ainda que descuidadas!) da minha casa me provocam ao florescer, algo em mim vibra numa sinfonia composta de delicadeza, pincelada de alguamas sombras, é verdade, mas no tom da naturalidade.
Enquanto estamos no alvorecer da primavera nossos contemporâneos do hemisfério norte estão vivendo o início do outono. Penso nas pessoas queridas que estão mundo afora ou em trânsito, e desejo dizer ainda algumas palavras. Desejo à Charlotte um outono repleto de reflexões e de saudável recolhimento ao sabor do vento resfriante do norte. Ao meu amigo em terras italianas desejo um outono poético e marcado por alegres inquietudes. Este post longo acompanha também votos de boa viagem a um querido amigo que parte para uma breve viagem à Europa neste fim de semana. Desejo-lhe uma viagem de silêncio e evanescências, e um retorno feliz a uma São Paulo embuída da primavera.
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