segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Madonna Mia!

Não sou fã. Confesso que o mau humor bateu forte e, na última hora, a única coisa que eu pensava era no porquê eu fui inventar uma coisa dessas. Segui assim para o Morumbi. Ao chegar na arquibancada lotada, tive a sensação de que simplesmente não conseguiria acompanhar o show. Afinal, fãs ardorosos tinham se dado ao trabalho de chegar ao estádio muito mais cedo do que eu. Não foi o que aconteceu. Não só vi, como me impressionei com o que vi. Tudo muito grandioso, muito colorido, muito coreografado, muito plástico e correto. Uma mistura de circo com quartel general: "que entrem as malabaristas recordistas em agachamentos, agora os palhaços marchadores, a mulher barbada-de-barriga-tanquinho, a jaula do leão fisioculturistaaaa!". Voz? Quase nenhuma. Mas com aquela disposição toda em surpreender e um fôlego sem fim quem é que precisa de voz? Acho que único momento de espontaneidade foi quando zombou da chuva (que não veio): "Quem foi que disse que iria chover? Eu queria ter do que reclamar!", disse a diva pop (que também é "rock", "metal"e "hip hop"). Eu também queria ter do reclamar. Mas para quem passou a infância toda ouvindo FM como eu, não posso negar que rolou uma certa emoção com coisas como Borderline, Express Yourself e Like a Prayer (a melhor, claro!). Como não sou muito chegada a circo (muito menos as forças armadas), provavelmente não volto. Mas a sensação de ver tudo pela primeira vez, não vou esquecer. Me joguei. E a-mei!

domingo, 7 de dezembro de 2008

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Pão com manteiga


São Paulo, 03 de dezembro de 2008, 23h52min.
Pão com manteiga
Hoje me deu vontade de escrever para agradecer... Agradecer ao Grande Criador... Agradecer também à Luísa... Agradecer às Magas... O porquê? No final desse texto talvez se compreenda... Bom, talvez no final não dê para entender... Talvez nem a própria Luísa ou as magas entendam... Mas, que ao menos recebam o meu “muito obrigado”!
Sábado fui convidado para um pocket show, porém, envolvido que estava com outras coisas, lamentavelmente não cheguei a tempo para a apresentação, mas apenas para o pão com manteiga (com direito a CD autografado).
Parei o carro na rua e desci apressado. Elas estavam ali reunidas, como verdadeira confraria.
À minha frente, que bom ver a doce Luísa entre suas amigas, em seu meio, com gostinho de Prosecco, os comentários, os sorrisos, a voz baixa.
Na minha diagonal direita, que bom ver a brilhante Maíra, sua voz peculiar e seu jeito contagiante, falando com animação, comentando, super chique, sobre gastronomia... Pensei comigo “será que essa menina sabe o quanto brilha?”
Sobre a terceira (last but not least) “Paula Coelha” no local, a distinta Diana, direi apenas que ela comia um pão com manteiga... Isso mesmo, sentada ao meu lado, ela comia um pão com manteiga... Por que frisar o pão com manteiga? Mais adiante se compreenderá...
Terça-feira. Saio para o trabalho com a pequena mala pronta. Depois do expediente um vôo para Belo Horizonte. Check-in, jantar, discussões, estratégias e especulações sobre o dia seguinte, fazer a barba, tomar um banho, pescar algumas notícias na TV, e o relógio alerta: 01h00minh.!
Seis da manhã o despertador, gravata, gel no cabelo, descer para o café...
Mas o que têm todas essas coisas a ver umas com as outras? Espero que se compreenda mais adiante...
Depois do café o check-out, os olhos ainda pesados pelo sono de cinco horas (e com interrupções) olham para a tela de plasma na recepção... Quem vejo? Entrevistando um cara, Diana na televisão, naquele famoso e respeitado canal de notícias. Quem? Diana, entrevistando um cara!
Despertei. Comentei com os colegas “Ei! Conheço essa menina!”. Pensei com minha cabeça de menino pensante que também pensa amenidades: “Como pode?! Hoje toda importante, na televisão (e eu que nunca conheci alguém que aparecesse na televisão), sábado ali comigo e as outras magas comendo pão com manteiga!?!
Senti vontade de agradecer. Vocês, magas, são demais!
Maíra, genial, talentosa, bem-humorada e brilhante, com um documentário na cabeça!
Luísa, fantástica, delicada e sensível, terminando seu mestrado, com texto a ser publicado no exterior!
Diana, perspicaz, distinta, aparece em um internacional e tradicional canal de notícias!
Charlotte, ainda não te conheço, mas você mora no exterior, então não preciso falar mais nada!
Mesmo sendo tudo isso, vocês, de forma extraordinária e notável, continuam cultivando e investindo em seu conteúdo, são bonitas e inteligentes sem perder a simplicidade, a sensibilidade e o lado humano.
Sou fã. Devia ter uma série inspirada em vocês...
Senti vontade de agradecer.
Obrigado, estimadas magas.
Obrigado, minha muito querida Luísa, por me oferecer e proporcionar, em pouco mais de uma semana, tanta coisa boa.
Don X.

domingo, 30 de novembro de 2008

O Não Dito...

"O amor deve ser lido instantaneamente. Não é uma brincadeira de esconde-esconde". A frase tirada do livro "As Damas do Vento", do ator e cineasta Bernard Giraudeau, resume a lógica do livro. Um discurso sobre o amor que é exposto poeticamente, mas em demasia. Onipresente e Onipotente, esse amor se esgota quando preso a verborragia do francês. É pesado demais, denso demais, mesmo que transfigurado por frases de efeito e belas estruturas poéticas. Talvez, o fato do escritor ser cineasta explique o esfoço de dar uma forma ou visibilidade a um sentimento tão abstrato. O que esquece é que o amor não precisa ser explicitado para ser compreendido. Os italianos parecem ter percebido isso melhor do que os franceses. No livro SEDA, de Alessandro Baricco, o amor não é citado uma única vez. E ao mesmo tempo aparece de forma gloriosa, mas sutil. É um livro que privilegia o silêncio. O que não é dito. O que não é sequer imaginado. E ali ele está. Lindamente descrito sem ser sequer chamado. Os dois livros, curiosamente, são ambientados em outras culturas: "As Damas do Vento, na África e América do Sul e Seda no Japão. Talvez, por perceberem que dentro de nosso próprio contexto as distâncias parecem ainda maiores do que as distâncias espaciais. Ou, porque o Outro radical pode ser a melhor forma de entender o que se passa entre duas pessoas numa relação amorosa. Mas, se as personagens vagueiam pelas mesmas fomes, carências e busca de sentido para a vida, são os espaços e os silêncios usados com maestria por Baricco, que transformam a narrativa num reflexo de diversas vidas. São essas lacunas, os constrangimentos, os amores escondidos que tornam esse livro tão especial, sintetizando o silêncio de diversas vozes. Barrico não banaliza o amor. Ele não quer defininí-lo ou entendê-lo. Ele é apenas um fato. Algo que acontece e deve é experimentado, ainda que muitas vezes não seja compreendido. O autor não cede à tentação de estigmatizá-lo. É um texto para ser lido nas entrelinhas e saboreado por quem já viveu o vazio do não-dito.

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Quando a Idade Chega

Hoje conversava com um amigo que não falava há algum tempo e, dentre os planos que eu disse que fazia para mim mesma, estava o mestrado. Ele educadamente me alertou que eu uso desse discurso há muito mais de cinco anos (ou seja, desde que nos conhecemos) e me disse - não com essas palavras é claro - que nunca movi uma palha para colocar o plano em prática. Ou seja, em poucos minutos de conversa, me dei conta que tenho sonhos que desde sempre não saem do papel. E que eu não faço nada, absolutamente nada, para mudar isso. E que não estou contente!!! Resumindo, acho que a idade chegou. E isso não tem nada (tá, tem um pouco, vai) a ver com os meus 30 e poucos anos. Véééia!!!!

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Os melhores amigos do zodíaco



Talvez seja mera coincidência, mas entre meus amigos mais animados encontra-se uma querida trupe de sagitarianos e sagitarianas. São aquelas pessoas que queremos próximas na mesa de um barzinho, de um café ou de um restaurante, falando com intensidade da vida, da existência no planeta, do capitalismo e do socialismo, ou simplesmente do último modelito das vitrines. Com elas e eles queremos ver os filmes mais polêmicos, as exposições mais aclamadas, os seminários mais candentes, os espetáculos de dança mais emocionantes, as peças de teatro mais cabeças. Com eles e elas queremos debater sobre os livros sérios e os da moda. Queremos falar no nosso trabalho, dos nossos corações, dos nossos pais e até mesmo dos nossos vizinhos. Na presença de um sagitariano ou de uma sagitariana qualquer festa fica divertida. Meus amigos e minhas amigas sagitarianas sempre têm uma escuta atenta, uma observação espirituosa e um comentário inteligente e divertido a respeito dos mais variados assuntos. Dinâmicos, bem humorados, de bem com a vida. São companhias para se ter ao lado, mesmo que meus amigos e as minhas amigas sagitarianas estejam cada vez mais distantes, no tempo e no espaço. Escrever estas poucas linhas é rememorar um pouco de cada um, de conversas singelas e tocantes, de conversas profundas e divertidas. Um beijo Charlotte, Stela, Tâmara, Bio, Georgia, Helena. Cada uma de vocês acompanhou momentos diversos da minha vida, trazendo toda sua alegria e espirituosidade ao meu mundo. Um beijo de gratidão e saudades!

Heartless

Quando "Crazy" estourou estava em Nova York. Lembro da Alê dizendo que amava uma música que não parava de tocar nas rádios. Lembro de Fabian e eu tentando descobrir qual era na base do "lálálá" dela. Lembro ainda do Fabian dizendo que era uma das melhores músicas do ano e que os caras eram muito criativos. E lembro também do meu - óbvio - mau humor discordando completamente de tudo. No fim, acho que eles estavam certos. O Gnarls Barkley ("the odd couple") foi ganhando mais e mais o meu respeito. "Reckoner", do Radiohead, com Cee-Lo cantando é um desespero só. "Crazy" tem uma base que dá vontade de voar. Dê uma olhada nessa faixa aí embaixo. A música é de doer e o clipe mistura, na medida, toda a tristeza e o ridículo que envolve um pé na bunda. O diálogo é muuuito bom, espero que você possa entender. Música e clipe são uma boa tradução daqueles momentos em que perdemos o chão (floorless) e, principalmente, o coração (heartless). Seria legal se o humor não perdêssemos nunca.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Onde os Fracos Não Têm Vez...

Vi ontem na TV um programa que me pareceu extremamente oportuno para o contexto atual. Não me perguntem o nome porque já peguei o "bonde andando", mas a idéia é colocar uma espécie de "Super Nanny" das finanças organizando o orçamento de uma casa. Nesse programa específico, uma jovem de 25 anos, que morava em NY, estava completamente atolada em dívidas e a super-heroína da economia tinha que tirá-la dessa situação. Quando encontrei o canal - que agora não me lembro qual era - as duas estavam tendo a seguinte conversa:
- Porque você deixou a situação chegar a esse ponto?
- Eu não sei....
- De agora em diante, nunca mais me diga que "eu não sei". Porque você sabe exatamente porque preferiu comprar um vestido ou um carro em vez de pagar as prestações da hipoteca da sua casa.
- Eu achei que como sou jovem ia conseguir sair da situação, dar um jeito. Afinal, é preciso aproveitar a vida enquanto se tem idade para aproveitá-la...
- Não me diga que aproveitar a vida é contrair um empréstimo com as piores condições que eu já vi na minha vida. O que você fez, querida, foi o seu completo suicídio financeiro.
Depois de lágrimas e lamentações, a especialista começa, então, a fazer cortes e mudanças no estilo de vida da personagem. "Meu Deus, como vou viver sem as unhas feitas?". "Eu não posso ficar sem sair com as minhas amigas no final de semana" e blá blá blá. Lógico que como todo reallity show que se preze a garota vai superar vários obstáculos, fazer sacríficios e no final será recompesada porque superou seu fracasso financeiro. Uma pergunta não me saía da cabeça enquanto eu via a cenas: serão os endividados os novos heróis americanos? Afinal, eles têm que lutar com uma monstruosa lógica do consumo, que cria a cada minuto novas necessidades inúteis. Além disso, combater uma ideologia do prazer imediato, de aproveitar a vida ao máximo, sem pensar no futuro. "Don´t worry. Be happy". Agora, o povo americano - e por consequinte toda a sociedade ocidental - está vendo que há, sim, muitos motivos para se preocupar. O estilo de vida americano é incompatível com uma economia equilibrada. A aquisição de bens não gera só status, mas a definição de um papel no mundo, uma identidade. E não ter essa possibilidade é se perder socialmente. Não é à toa, que deixar de fazer as unha para essa moça seja um drama sem precedentes. Mas, aos poucos, a realidade passa ditar novas regras. Foi incrível ver a "personal" das finanças perguntar sobre emprego para a moça:
- Por que você não está trabalhando na sua área?
- Porque eu não me sentia feliz na minha área....
- E o que você ganha nesse outro trabalho está sendo suficiente para pagar as suas dívidas?
- Não.
- Então, vá ser infeliz ganhando dinheiro!
A conversa por mais absurda que pareça não deixa de ser engraçada. Por um lado, a sobrevivência falando mais alto que a realização pessoal. Por outro, a descontrução de uma idéia do trabalho "ideal". Ficou claro que não há sentido em falar de satisfação pessoal numa situação de crise. Por mais conservador que esse diálogo pareça, é muito interessante pensar que a continuidade desse sistema depende exatamente isso. Mesmo que depois se vendam livros de auto-ajuda, filmes sobre a realização dos sonhos e drogas da felicidade...Enfim, cada indivíduo tem que guerrear atualmente contra suas próprias escolhas. E na lógica desse mercado - para que o happy end aconteça - só os fortes sobrevivem...

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

La nuit du mercredi


Debaixo daquela chuva torrencial rumei para o CCSP em busca de mais uma experiência com a música erudita contemporânea. Um tanto desconfiada (dormi na última apresentação), esperei o concerto da amiga Lucia Cervini e do querido Horácio Gouveia, enquanto lia numa revista semanal que a maioria dos brancos americanos votou em McCain.
Não é que o concerto surpreendeu?! Felizmente tive o prazer da companhia sempre agradável de Don XYZ. Lúcia arrasou na primeira música, de Flo Menezes. “Focalizações sobre uma série (1980) para piano preparado. No começo confesso que remexi na cadeira esperando uma melodia agradável. Música não era para ser fruição? Não. Música contemporânea é para ser forma, como notou Don XYZ. E foi bacana perceber a coreografia corpo da pianista e piano, chegou um momento que entendi que o barato do instrumentista é entrar em sintonia com o instrumento, tirar os sons mais inesperados (como fazer ranger a corda do piano), e ser o elo entre a mente (um tanto maluca) do compositor, a notação musical e a realização da obra. Se o resultado não agrada nossa expectativa do belo, nos intriga e instiga.
Três vazios de Lao-Tsé (1999) para piano, de Marcos Câmara foi uma música agradável, colorida, em torno de um mesmo tema, e voltou a trazer a sensação harmoniosa de que o piano é um instrumento melodioso.
Crucifixus (2005), de Mário Ficarelli, foi maravilhosa. Começou sombria, e trouxe a dimensão profunda do piano e da música. O som foi cercando o ambiente e crescendo, até tocar, em tons mais agudos, no cerne da alma. Fiquei emocionada. Música é vibração, e seus efeitos em nossa percepção são variados. No caso da música contemporânea, em geral, quando a melodia é quebrada e os compassos são irregulares, o efeito em mim, que sou leiga, é de inquietação. Mas nesta música foi pura fruição, uma viagem pelos sentidos de sobriedade, um conjunto de sombras que se iluminam intensamente a cada acorde.
E então remexo na cadeira novamente. Embora impressionada com a interpretação de Horacio Gouveia, “Cortázar ou quarto com caixa vazia (1999), de Silvio Ferraz, foi um experimentalismo que me causou incômodo. Provavelmente para quem conhece música, o efeito deve estar em se deliciar com as peripécias da forma, com os diálogos entre os períodos históricos. Quanto a mim, ficava pensando, “quando ele vai mudar esse tema?!”. A resistência advém da ignorância, afinal.
Por fim, “Prelúdio” (2004) de Edson Zampronha, retomou a sonoridade colorida e as possibilidades sonoras múltiplas do piano. A última nota durou no espaço, lembrando que o silêncio também é música.
Ficamos nos perguntando o que vem depois da música contemporânea. Será que os compositores decretaram o fim da música? Será que é o entendimento de que a experiência da audição é a experiência da vida contemporânea, com seus ruídos incessantes? Se os românticos louvavam a natureza, os contemporâneos traduzem a inquietação das megalópoles, a ausência de sentido que muitas vezes experimentamos na vida, a impressão de estarmos tão distantes de Deus? Ou será apenas experimentação para quem se imbui verdadeiramente da linguagem da música?
De toda forma foi uma noite encantadora. Obrigada, Lucia e Horácio, pelo convite e por trazer essa musicalidade toda para uma gostosa noite de quarta-feira; obrigada, Don XYZ pela querida e gratificante companhia.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

O dia em que Stipe (não) me convidou pra subir

Minha mãe sempre diz que existem coisas que a gente tem de fazer na hora certa, sob risco de parecermos ridículos. Isso ela falava principalmente quando eu, aos 20, me recusava a usar mini-saias. Ontem, eu me lembrei dessas palavras.
Há umas semanas, eu e amigos decidimos que queríamos muito ver o show do R.E.M, mas não tínhamos como desembolsar as 200 pratas pedidas. Então, elaboramos um plano que parecia bem razoável. Chegaríamos na hora do show e pechincharíamos com cambistas - aqueles seres irritantes, que estão na ilegalidade. O teto seria 100 pilas. Como seriam dois dias de shows, acreditamos que a probabilidade do lance dar certo seria alta. Não deu. Conseguimos um ingresso a 130 reais e só. Como a gente prometeu que não iria rolar frustração (pelo menos aparente), terminamos a noite em uma lanchonete ali do lado. Eis que na volta, cortando caminho pela lateral da casa de espetáculos, um dos nossos some por uma porta de emergência, que parecia dar em lugar nenhum. A comparsa dele foi atrás. Sobramos eu e mais uma, sem muita paciência pra esse tipo de brincadeira. Alguns minutinhos depois e nada. Um deles nos liga, não entendemos nada. Ai ele volta para nos resgatar (isso foi muito fofo da tua parte, PC, muito mesmo). Uns cinco lances de escada depois, Michael Stipe está lá no palco. Ele e "Losing My Religion" e um telão enorme e Obama e a galera delirando. Sim, o risco de parecer ridícula assumindo que fiz uma coisa dessas é enorme - afinal, a adolescência ficou lá lá atrás. Mas foi o "pocket" show na faixa mais incrível que já vi. Agora, só me resta encarar a mini-saia. Antes que seja tarde demais.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Yes, We Can



Uma amiga minha voltou de Nova York há um mês e a única coisa que pedi a ela foi uma camiseta. De Obama. Odeio pensar em política e praticá-la sem conservar intacto o meu senso crítico. Mas como ficar impassível diante da possibilidade de ver o primeiro negro eleito no país mais importante do globo? Um país onde, há cerca de cinqüenta anos, negros eram obrigados a ceder seus lugares em transportes públicos (eu disse públicos), parte deles não votava e o primeiro deles a entrar em uma universidade teve de fazer isso escoltado pela polícia?
Não quero ferir sensibilidades, nem tampouco pedir que esqueçam o que ouvi e escrevi: não faltei às aulas de antropologia e sei que, em outras instâncias, o conceito de raça é uma grande bobagem. Mas essa bobagem tem sido manipulada de forma eficaz há algum tempo. Com resultados trágicos a um grupo de pessoas diferenciadas pela pele -- que, concordo, não são apenas vítimas passivas.
Porque vivemos em uma sociedade movida também por símbolos (como bem me lembrou Aramis), me sinto segura em dizer que, pelo menos nessa seara, algo incrivelmente importante -- histórico -- aconteceu hoje. E que esse algo vai ter impacto para muito além do Malcolm X Boulevard (Harlem, NY).
Por aqui, ter não só Obama, mas uma família negra na Casa Branca (o trocadilho foi sem intenção), pode ser inspirador. Para qualquer um. Domésticas, jovens negros que não passaram pela porta dos colégios e universidades onde estudei, trabalhadores braçais, pelés, sacis, para mim e para você também. Alarga nossos horizontes para além dos elevadores de serviço, entende?
Pense na sua caixa de estereótipos reservada aos negros (eu já ajudei). É ela também que está sendo remexida hoje. E eu desejo que seja uma revolução.

OBAMA: I HAVE A DREAM....


A Vitória de Obama é inspiradora. O novo presidente dos EUA não representa apenas uma nova era, mas uma transformação radical na mentalidade mundial. Barack Obama. Quem imaginaria que um nome desses algum dia estaria nas páginas da História americana? Pois é. Mas o que parecia impossível tornou-se real. Obama é sinônimo de mudança. Mudanças nos padrões, na forma de fazer política e de se pensar a política nos EUA. Depois de oito anos de uma gestão que pensava o governo do país como uma extensão dos negócios de família, os EUA escolheram um homem que não só coloca a política no seu devido lugar, como oferece um governo estrategicamente mais participativo, com uma visão humanitária e que prioriza as questões sociais em detrimento da lógica de mercado. Obama não venceu somente contra os repúblicanos nesse 4 de novembro. Ele é a vitória contra o racismo, a alienação e o conservadorismo. A mudança chegou em todo o Ocidente com essas eleições. Um líder carismático, num país em crise, que desenha um futuro mais otimista para o mundo. Afinal, estamos todos assistindo a realização de um novo - e concreto - sonho americano....

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Cultivar-se

Ontem, uma amiga me falou sobre o ato de "cultivar-se". Fiquei com isso na cabeça e fui procurar auxílio no Aurélio. Cultivar no dicionário seria: "Fertilizar (a terra) pelo trabalho; 2.Dar condições para o nascimento e desenvolvimento de (planta). 3.Fig. Procurar formar; desenvolver: cultivar o gosto pelas letras. 4.Aplicar-se ou dedicar-se a: cultivar as artes. 5.Procurar manter ou conservar: 6.Formar, educar ou desenvolver pelo estudo, pelo exercício. Em todas as definições, um denominador comum para as ações: o "eu" sujeito" que produz ou cria as condições para que algo se desenvolva. Alguém que oferece os meios para o desabrochar de si e dos demais: se cuidando, se acarinhando, crescendo e gerando uma nova realidade. Sinto que de alguma forma tenho feito isso, apesar de me sentir incapaz de prever que tipo de fruto vai sair daí... O fato é que nenhuma mudança é previsível, mas é estranho não saber que rumo posso dar a partir das minhas próprias escolhas. Sei que não tenho aptidão para lidar com as coisas práticas do dia-a-dia. Por isso, talvez, seja mais fácil me refugiar num mundo mais abstrato de idealizações e de subjetivações. No entanto, o que fazer com isso é uma questão. Num mundo de respostas rápidas e demandas objetivas, essa demora por um plano, um projeto ou uma escolha pode ser fatal. Sinto-me deslocada num deserto, sem a ilusão de um óasis. Mas cultivar-se pode signivar também resistir. E para mim, resta seguir e fazer desse cultivo o meu único objetivo imediato.

sábado, 25 de outubro de 2008

É Pra Quando?

E ai, meninas, vocês vêm ou nao me visitar? Estou esperando!

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Velha canção


Hoje vou contra o sistema
A propaganda
O aderente mais perfeito
Descobri a minha angústia
E a angústia não é só minha
A cortina se abre
E o mundo continua velho
É o mesmo presidente
O mesmo caos
A mesma asfixia
Tudo velho, nada de novo
"Quero derrubar as cercas
Em que insisto em me defender"
O cão foi despertado:
Feroz, vivo, fugaz
E é ele que eu quero em mim
Porque é preciso ser assim
Ofereço a rosa:"A estúpida e inválida
A rosa com cirrose, a anti-rosa atômica"
Que ainda é nova
Para os que querem nos destruir

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Loki

"Quando eu digo xis, gostaria que as pessoas entendessem xis".
Arnaldo Baptista, Mutantes

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Viagem ao Centro dos Mundos

Estive pensando sobre viagens. Não somente aquela que nos remete a outros espaços físicos, mas as viagens que nos levam para dentro de nós mesmos. Entre uma e outra, não sei dizer a que mais me instiga. À medida que planejo minha viagem para New York, entro num período particulamente sensível aos devaneios intelectuais. Estou lendo. Lendo muito e cada vez mais longe de uma verdade plausível sobre qualquer coisa. Às vezes, tenho medo que essas viagens me levem a um caminho sem volta, longe da razão e da comunicação com outros seres. Mas, o fato é que nessa trajetória estou encontrando o meu não-lugar no mundo. Uma sensação estranha de não pertencimento, de dupla cidadania entre duas searas: da razão e a do devaneio. Viajar através das mentes, subjetividades e discursos alheios tem sido um prazer enorme. Talvez, elas me ajudem a lidar de forma prática com a vida real. Ou, ao contrário, destruam qualquer possibilidade de realidade. Seja aqui ou em Manhattan, o fato é que uma boa obra te faz pensar sobre que discurso é você. Nessa semana, li "Plataforma" de Michel Houllebecq e assisti um filme francês que não me lembro o nome. Os dois falavam praticamente sobre a mesma coisa: uma situação de individualismo extremo, em que as relações só se dão se fetichizadas. Nessas duas histórias, relações simples como a amizade se tornam peças raras, que precisam ser descobertas através de cursos, excursões, palestras e livros de auto-ajuda. Estou longe dessa situação limite, mas confesso que perdi o interesse, de um modo geral, pelas pessoas. Tenho me limitado a um número certo de amigos, que tenho a certeza de manter um diálogo - e uma convivência - de bom nível. Tudo muito agradável, sem sustos e sem decepções. As outras pessoas - os diferentes, no caso - simplesmente não me interessa conhecer, estabelecer contato ou simplesmente me aprofundar num relação. Por isso, é mais fácil o envolvimento emocional com depressivos, alcóolatras e os comprometidos. Nada de riscos, de sentimentos desperdiçados ou de reações extremas. Tudo aparentemente sob controle e com o contato mínimo para manter os hormônios equilibrados. Talvez, seja por isso que um parágrafo do livro de Houllebecq me tenha tocado particularmente: "como europeu abastado, eu podia comprar a baixo preço, em outros países, alimento, serviços e mulheres; como europeu decadente, consciente da minha morte próxima e plenamente aberto ao egoísmo, não via motivo para me privar de tudo isso. Mas tinha consciência que tal situação não podia continuar indefinidamente, pois pessoas como eu não são capazes de assegurar a sobrevivência de uma sociedade... Mudanças iriam ocorrer, já estavam ocorrendo, mas eu não conseguia me sentir implicado nelas; minha única motivação autêntica era tentar sair daquela bagunça o mais rápido possível". Enquanto isso, minha viagem segue indiferente as oscilações da bolsa...

Barulho Cabeçudo


O mais legal de assistir aos cabeçudos do "Art Ensemble of Chicago" na última sexta-feira não teve, claro, nada a ver com a apresentação. Além de estar entre muito bons amigos, o incrível foi receber essa mensagem no celular, no meio do show: "Flavinha, saí do teatro para encontrar o XYZ. Que som! Amei! Me avise onde vão comer".

Aninha, você é uma peça. Figura rara e incrível.


P.S.: Evinha, obrigada mais uma vez.

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Like A Prayer

Caros leitores,
Se alguém tiver ou souber de alguém que tenha um ingresso para o show da Madonna do dia 20 de dezembro, arquibancada vermelha e tope vendê-lo (sei lá, de repente essa pessoa marcou o próprio casamento e esqueceu, descurtiu Madonna, David Banda e cia. ou vai mudar de país), avisem-nos! É urgente!

Cada militante tem o companheiro que merece...

Antes de mais nada, peço desculpas aos amigos internautas por não ter cumprido minha promessa de fazer um Diário de Campo da campanha eleitoral que participei. A falta de computador e o tempo escasso me impediram de fazer os relatos diários do que vi e ouvi nessa época. Mas, vou tentar resumir o que apreendi nesses dois meses de campanha. Uma coisa já adianto a vocês: descobri que a participação política não se resume a um grupo de militantes reunidos numa praça em um dia chuvoso. Ocupei um lugar privilegiado nos bastidores de uma eleição para perceber que o fazer político não se resume apenas a um conjunto de propostas e de ideologias que rodeiam um candidato. Ela se faz também nas rachaduras desse partido, no duelo entre militantes, nos jogos de poder que envolvem uma eleição. Disso resultam os conchavos, as armadilhas, a maneira sórdida em que um grupo de militantes queima o outro. E entre mortos e feridos, uma campanha para ser ganha. O fato é que numa candidatura o que está em jogo é o acesso ao poder. E se por um lado, há os candidatos tentando conquistar esse espaço no legislativo ou no executivo, por outro, há uma disputa interna nos partidos para saber quem vai ficar do lado certo caso vençam as eleições. Pelo que pude ver, um companheiro pode ser o seu pior adversário em época de campanha. Ele não terá o menor receio em destruir sua imagem, desmoralizá-lo publicamente ou comprometê-lo diante do seu partido e dos outros se você tem mais amizade com o candidato do que ele, por exemplo. E se o candidato está próximo da vitória, maior será a distância entre você e o outro militante. Seu companheiro não terá o menor pudor em espalhar boatos, passar informações para os jornais ou simplesmente boicotá-lo financeiramente para minar sua participação nesse período. Ainda que isso coloque em risco o objetivo maior da campanha: vencer nas urnas. Por isso, numa campanha, não basta conhecer os adversários políticos, é preciso antes de mais nada saber quem são seus companheiros de luta...

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Eleições 2008




Eu costumava ser petista. Mas isso foi antes de o partido se institucionalizar, e abrir as portas para oportunistas de plantão com intenções para lá de duvidosas. Isso foi na época em que eu acreditava que bastava a pessoa ser de um partido para eu poder confiar que seus ideais e propósitos eram os mesmos que eu cultivo há anos: justiça social, métodos democráticos, liberdade de expressão, superação dos preconceitos. Hoje em dia observo tudo com mais distanciamento. Menos paixão e um tanto mais de razão. Alguns teóricos analisam que a política, no sentido de construção de um mundo comum, anda em franca decadência. Afinal, estamos em um mundo de trabalhadores sem trabalho, em que a gestão é cada vez mais importante do que o debate público sobre nosso futuro. É neste sentido que nesta eleição, como, aliás, nas últimas, votarei no candidato a prefeito do Partido Socialismo e Liberdade. Acompanho a trajetória do partido um tanto de longe, mas o bastante para acreditar que os desiludidos do PT membros do PSOL que ainda têm força de militância são sérios e alinhados a propostas alternativas à construção de uma cidade cada vez mais segregada e excludente. Desconheço artimanhas e alianças escusas (diferentemente do que ando vendo dentro do PT) dentro do PSOL, concordo com as propostas urbanas de prioridade às áreas sociais e democratização do uso da cidade. É porque desejo uma São Paulo mais lúdica, alegre e com equipamentos acessíveis a todos que votarei novamente para vereador no arquiteto e urbanista Nabil Bonduki. Como vereador, foi responsável pela aprovação do plano diretor na cidade e está bastante engajado com políticas para habitação e para a cultura no âmbito municipal. Outra opção é o vereador Carlos Neder, médico sanitarista, com atuação na defesa da saúde pública.
Posso dizer com segurança que conhecer mais de perto a política partidária e circular por alguns meios ligados aos dois maiores partidos da cidade, (o PT e o PSDB) me tornou uma pessoa mais desiludida com esse caminho partidário de encaminhamento da agenda pública. Mas não é por isso que vou deixar de votar de acordo com a minha consciência.

http://www.ivanvalente50.com.br/campanha/CN01/programa/Propostas_para_Sao_Paulo.htm
http://www.nabil.org.br/

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Fim da História


Idéia: que tal o Fukuyama pra comentar a mega crise americana?


terça-feira, 30 de setembro de 2008

Nem Bom Nem Ruim

Ontem fiquei com medo da Piaf. Eu sei, é ridículo, mas, eu tenho de admitir, aconteceu! Sabe aquele começo de sono tumultuado em que uma imagem, digamos, mal colocada, atrapalha tudo e você, depois, custa a pegar no sono novamente? Então, acho que por influência do meu post anterior fui dormir com a imagem dela na minha cabeça, no fim da vida, com aquele cabelo acaju horroroso e aquela boca de palhaço e, pimba, perdi o sono! Bom, se isso já não bastasse, acordei com o meu olho direito - que ontem já doía - completamente inflamado. Toco para o oftalmologista, ela me dá pomada, diz que não é nada demais (ou seja, nem um diazinho em casa eu preciso ficar), e me recomenda uma semana sem lentes. Meu jesus, quem me conhece sabe que meus óculos parecem uma lupa! (Podem anotar, aquele gaaaato vai me chamar pra sair nos próximos dias). Por fim, chego à redação e um entrevistado me dá um abraço tão, mas tão forte, que eu fico o dia todo com o cheiro (enjoativo, pra ser delicada) do perfume dele em mim. Sabe aqueles dias em que nada de muito ruim acontece, mas também nada de bom? Gente, o que é isso?

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Je Ne Regrette Rien

No último domingo, de uma tacada só conferi "Piaf", "Desejo e Reparação" e "A Vida Secreta das Palavras". Os três juntos, assim, um atrás do outro, não recomendo para corações mais frágeis. Eu, que acionei o "circuit breaker" do meu, levei tudo numa boa.
Os três filmes são bonitos, cada um a sua maneira. A interpretação impecável, a história de vida inacreditável e as canções do primeiro formam um conjunto triste e muito, muito bonito. O segundo, um filmão de época com aqueles sentimentos exagerados, tem uma ótima fotografia e um jogo com as cenas (do tipo que você se pergunta, "mas foi isso mesmo que eu vi?") bem interessante. Enfim, um bom casamento com a história de McEwan. O último (sugestão de Sérgio) é da produtora de Almodóvar e eu bem que acabei vendo um pouco dele não só em caras conhecidas, mas também na trilha sonora e aqui e ali (ok, pode ser que viajei). O filme, porém, tem outro registro. É contido e claustrofóbico, tenso e delicado. Contém o impossível e todas as possibilidades, daí a beleza.
Encerrada a sessão tripla, a sensação que eu tive é que o horror, nos seus mais variados graus, embota a possibilidade de amar. Mas não a extingue.

P.S.: Pensei até em postar Piaf cantando aqui. Mas, pensando bem, não sou tão forte assim....

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Coisas Que Aprendi Na Campanha....

- Organização é um santo remédio;
- Manda quem pode, obedece quem não tem juízo;
- Quem sabe faz a hora e a equipe de TV que se f....
- Cada militante tem o companheiro que merece;
- Mais vale uma câmera na mão, do que duas que não funcionam;
- Há mais mistérios entre um pagamento e outro do que pode supor nossa vã filosofia...

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Genuinamente feliz


www.danadesigngroup.net/images/Sunflower-Fiel...

Desde há algum tempo minha felicidade vinha sendo comedida, como se meu corpo e meu espírito pudessem apenas sustentar instantes de epifanias. Assim, de uma suave melancolia via nascer momentos de lirismo. Ultimamente nutro uma confiança maior no belo, e reconheço uma felicidade mais intensa, que nasce no centro do corpo e extravasa pelos poros, irradia pelo olhar e salta num sorriso desses com os quais convivíamos na infância. Neste estado natural as palavras são como acordes soltas no ar, emoldurando a cena. É verdade que os momentos de felicidade intensa são fugazes, e algumas sombras vagueiam pela mente de quando em quando. Mas este momento é precioso, e descortina o manancial de energia do que somos em essência.

sábado, 20 de setembro de 2008

Despertar


A cidade nasce a cada manhã
Enquanto morro ao despertar
O sono me liberta
E a rotina se estende na História
Vida e esquecimento num redemoinho de sensações
Que luzem e reluzem na grande metrópole...

terça-feira, 16 de setembro de 2008


"Ninguém pode conviver sozinho com a beleza que é capaz de perceber. E quanto a nós, que buscamos o Absoluto, e que construímos um jardim usando a nossa própria solidão, a Vida nos deixou a imensa paixão para aproveitar cada instante, com toda a intensidade."
Gibran Kahlil Gibran (1883-1931)

www.starnews2001.com.br/kahlil/museu_gibran.htm

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Com a Palavra Fernando Pessoa...


Acenderam as luzes, cai a noite, a vida substitui-se.
Seja de que maneira for, é preciso continuar a viver.
Arde-me a alma como se fosse uma mão, fisicamente.
Estou no caminho de todos e esbarram comigo.
Minha quinta na província,
Haver menos que um comboio, uma diligência e a decisão de partir entre mim e ti.
Assim fico, fico... Eu sou o que sempre quer partir,
E fica sempre, fica sempre, fica sempre,
Até à morte fica, mesmo que parta, fica, fica, fica...

Indícios da Primavera


É inegável que desde há algumas poucas semanas a primavera vêm mostrando suas bênçãos na cidade de São Paulo, na exuberância de suas flores ao ritmo de sua encantadora passarada.
Sempre tive um amor declarado pelos ipês e devo confessar que geralmente meu encantamento pende para os roxos, exóticos e portadores de um quê quase celestial.
Neste indício quase início de primavera tenho me sentido irresistivelmente atraída pelos ipês amarelos, em sua explosiva simplicidade. Ambos continuam animando meus olhares nos caminhos diurnos que percorro, rompendo, vitoriosos, a monotonia da paisagem que pulsa na arquitetura paulistana. Por pura ignorância não cito as outras árvores e flores que proliferam nos canteiros e jardins das casas, no meio-fio, nos parapeitos das janelas. Com elas vêm os pássaros, cujos cantos acolhem meu despertar desde a infância quando pairava, absorta, na sala de aula, buscando o que acontecia janela afora, no jardim, com mais avidez e interesse do que as recomendações da dedicada professora sem quem, aliás, não escreveria linha alguma.
Esse lado idílico dos meus anseios se intensificou na adolescência, quando encontrei a poesia de Alberto Caeiro, e ganhou contornos mais fortemente esculpidos em minhas poucas mais significativas incursões em ambientes ainda não tocadas pela fluidez descontínua da lógica urbana.
Neste indício de primavera reconheço em mim indícios de consolidação de uma primavera interna, por assim dizer. Sem abandonar os arroubos de encantamento que as flores (ainda que descuidadas!) da minha casa me provocam ao florescer, algo em mim vibra numa sinfonia composta de delicadeza, pincelada de alguamas sombras, é verdade, mas no tom da naturalidade.
Enquanto estamos no alvorecer da primavera nossos contemporâneos do hemisfério norte estão vivendo o início do outono. Penso nas pessoas queridas que estão mundo afora ou em trânsito, e desejo dizer ainda algumas palavras. Desejo à Charlotte um outono repleto de reflexões e de saudável recolhimento ao sabor do vento resfriante do norte. Ao meu amigo em terras italianas desejo um outono poético e marcado por alegres inquietudes. Este post longo acompanha também votos de boa viagem a um querido amigo que parte para uma breve viagem à Europa neste fim de semana. Desejo-lhe uma viagem de silêncio e evanescências, e um retorno feliz a uma São Paulo embuída da primavera.

Sobre Porcos, Batom e Outras Coisas Sem Sentido

Como explicar o sucessor de Bush à frente nas pesquisas eleitorais por quase 2 pontos porcentuais? Fui longe demais ao acreditar que Obama bateria McCain?

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Coisas de Mulher

No site do Yahoo, hoje, uma matéria da agência EFE: "Cada vez mais mulheres colecionam ex-parceiros". Acima da chamada, uma foto de uma mulher bem bonita com um cara triste de dar dó. O texto começa apresentando os números crescentes de divórcios no mundo para, logo em seguida, emendar: "Após esses dados, a idéia de que o conto de fadas existe muitas vezes parece mentira". Gente, como assim a idéia do conto de fadas PARECE mentira???!!!!!!
Não sei se foi a falta de respeito no trabalho (onde, às vezes, é preciso ser macho para ser ouvido e respeitado), ou a lembrança de um amigo que teve a coragem de me dizer que não se interessava muito pelo blog porque era um blog de mulher (sic). Mas o fato é que a matéria me enfureceu.
Não sou lunática e sei, sim, que está cheio de mulher louca pra colocar uma grinalda na cabeça e fazer os pratos para o primeiro mané que aparecer disposto (ou não) a abrir portas de carros e pagar contas. Assim como tem um monte de homem que se sente na obrigação de contrair matrimônio, mas tem certeza de que vai encontrar diversão até mesmo no dentista - nunca dentro de casa.
Mas e todo o resto que não se enquadra em nada disso?
Ter filhos, não ter, ir para a África trabalhar com voluntariado, sonhar com um marido ou uma "marida", se encerrar num convento, estudar ciência política ou dar o golpe num milionário, enfim, tudo isso não está escrito em pedra e faz parte de escolhas individuais, pactos entre duas (ou mais) pessoas, contingências e não permanências.
A mim, ter vários ex-namorados está looonge de ser algo ruim. E a possibilidade do divórcio (pelo menos enquanto as pessoas se casarem), me parece tão necessária quanto o direito da mulher sobre o seu próprio corpo, a igualdade racial, o reconhecimento da multiplicidade sexual ou o voto universal. Dã.
Achar que o normal é que todo mundo queira se casar aos 25, ter um menino e duas meninas, um plano de saúde e um carro conversível na garagem só vale até os 10 anos de idade. Depois, fica estranho, tá?
Enquanto esse mundo ainda estiver dividido entre homens e mulheres, eu posso dizer que eu, enquanto mulher, me interesso por relacionamentos, sapatos, política, outras culturas, música e literatura, dentre outras várias coisas. Não necessariamente nessa ordem.

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Para Esquentar



Para esquentar essa noite fria, prenuncio do outono por aqui, musica em homenagem a nos, garotas super poderosas.

domingo, 7 de setembro de 2008

Vinho Argentino e Melissa Vermelha

A vida pode ser leve. Pode ser fácil. Pode ser mágica. Numa mesma semana entre a frustração e a alegria, decidi ficar com o devaneio da última. Brinquei de adulta de segunda à sexta para dormir como criança no sábado. Uma semana massacrante, opressora, insuportável que se desfez com uma taça de vinho argentino. Entre piadas e histórias com "H", o desejo de ser feliz. De não me perder nessa rotina nefasta de trabalho e obrigações. Uma noite leve depois de uma semana imensurável. A sensação de embriaguez e por que não dizer de liberdade? Como se de repente todas as adversidades perdessem o sentido diante das situações ridículas que o destino nos impõe. Deliciosamente ridículas. O tom jocoso, a bebida descendo leve, a risada livre entre amigos. O que há de melhor? Libertar-se das amarras, dos complexos, da tirania nossa de cada dia. Salvei minha semana e espero salvar a minha vida. Que flua por entre os instantes. Que cresça na epopéia dos momentos banais. Que nasça do limbo, das ruas. Do canto das sereias ou simplesmente da gargalhada compartilhada com os amigos. Sinto finalmente que o martírio não precisa fazer parte da minha vida. Quero jogar fora o peso que dou para as coisas e construir algo novo na minha rotina. Surgindo da noite de um sábado num restaurante qualquer. Encontrar com pessoas que são você ao avesso e que revelam uma imagem mais generosa, um reflexo mais doce da realidade. Um Narciso lúdico que ri de si mesmo. E é essa a grande questão. Descobrir no dia-a-dia a suavidade ou ao menos um pouco de beleza. Nem que seja através de uma taça de vinho ou de uma melissinha vermelha presa num altar.

sábado, 6 de setembro de 2008

Alaíde Costa canta Caminhos Cruzados


Música de Tom Jobim e Newton Mendonça

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Você Tem Medo de Quê?


Há algumas noites um amigo que me deixava em casa já tarde da noite dava uma de engraçadinho tentando me assustar com possíveis fantasmas noturnos. Ele percebeu uma espécie de buraco na parede da minha casa - do qual eu nunca tinha me dado conta - e disse que aquilo era estranho e que eu poderia ser atacada por seres bizarros e tal. Ali naquele contexto a coisa tinha graça. O que não tem graça são esses fantasmas da vida real. Os imaginários eu lido numa boa, mas os reais me dão calafrios. E não é justo que um desses fantasmas reapareça do nada - justamente depois que você conseguiu exorcizá-lo -, esperando boas-vindas. Sai de mim! É preciso que esse tipo de assombração reconheça que até os gestos mais tresloucados precisam de um pouco de reflexão. Porque tudo se desenrola e, mais pra frente, você pode desejar ter uma boa relação com alguém que você destratou um bocado. Mais uma vez eu reafirmo a minha crença: as pessoas deveriam ter mais cuidado ao pausar relações - sejam elas de qualquer espécie. E um pedido sincero de desculpas, como diz minha mãe, não entorta a boca de ninguém. Pelo contrário, pode consertar muita coisa.



Uma noite de sons e sentidos

Ontem fui, acompanhada de dois queridos amigos, ao recital Johannes Brahms ouvir minha amiga Lucia Cervini e seu amigo Horácio Gouveia ao piano. Brincamos que eu escreveria uma crítica sobre a apresentação. Acho que ficaria mais ou menos assim,
Os artistas, pianistas e cantores, nos transportam para o universo da imaginação e do êxtase que a música comunica. Somos levados a rir com o dueto do casal empolgado, surpreender-nos com um misto de temor e fascínio com o cântico da bruxa e sua filha, e experimentar o sentimento de profunda devoção com a “Canção Séria”. As valsas tocadas a quatro mãos nos levam para o reino do fantástico, em que habitantes sublimes nos conduzem de volta ao presente, ao brilho sem limite; assistimos seres humanos iluminados trazerem clarão às vidas de sua platéia encantada. Sustentadas pelas notas vibrantes, doces, alegres e profundas a platéia comunica sua gratidão pela vida e pelo encontro de almas. Por fim os cantores retornam ao palco e ouvimos as agruras e encantamentos das canções de amor. Uma ode às musas faz com que agradecemos, em sintonia com Goethe, ao invisível mundo dos arquétipos abençoadores da arte.

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Pensamento do Dia

O que fazer quando se tem divergências importantes e convergências deliciosas com a mesma pessoa?

Paisagens do silêncio



O teatro da Galeria Olido é amplo e aconchegante. As luzes se apagam. Duas bailarinas e um bailarino estão no palco quando a iluminação retorna. A densidade do silêncio se desenrola em volumes, sustentada pela música singela. O espetáculo de Sandro Borelli, "Produto Perecível", é singelo e tocante. Estou encantada com a percepção do tempo que os bailarinos comunicam, suave e circular, contínuo. São emanações do contato silencioso e atento. A música sustenta os grandes movimentos, e tudo volta para o chão, onde a conversação silenciosa se desenrola. O movimento finda com a sensação de continuidade, tudo muito tranqüilo.
Armando Aurich sobe ao palco para apresentar sua coreografia. Dou-me conta do meu fascínio pela dança. Não apenas pela possibilidade de lançar-me no espaço em busca de percepções multidimensionais do movimento, mas também pelo que ela comunica quando sou espectadora. Em poucos minutos o bailarino comunica diferentes estados psíquicos, intensamente e claramente. Seus movimentos são ao mesmo tempo intensos e contidos. São de uma expansão profunda, é todo o seu ser que se movimenta, sua mente e corpo e não apenas seus aparelho locomotor. Estou fascinada com a energia que está no ar, integradora e obstinada.
2 Reflexos é o último espetáculo da noite, de Mariana Muniz. As duas bailarinas comunicacam a incomunicabilidade, a fragmentação dos gestos e a busca cega pelos sentidos de si. O figurino é pesado, e vai organizando os movimentos assumindo uma quase nudez. Janelas surgem em imagens aos fundos, é a própria cidade que está nos corpos e seu movimento.
Os espetáculos saíram de cartaz ontem (domingo 31 de agosto). Contudo, fiquei tão tocada e o desejo de expressá-lo em palavras foi tão grande que não resisti.



http://www.youtube.com/watch?v=z_iknXgC30c


foto de Silvia Machado em http://www.baledacidade.com.br/coreografias/meta-sensorias.asp

sábado, 23 de agosto de 2008

Bate-Papo Coletivo

Uma das coisas mais gostosas quando estamos longe de casa é justamente ligar para casa, ouvir a voz das pessoas conhecidas. Falar com os queridos, que mesmo longe compartilham de nossas experiencias, é muito reconfortante. Com o retorno de Maira a Sao Paulo, depois de uma intensa jornada de trabalho no mundo da politica, decidimos, eu, ela, Diana e Luisa, marcar um horario na casa de Maira para nos falarmos.
Infelizmente, nao conseguimos nos reunir. Diferença de horario, compromissos e pane no meu cartao telefonico internacional impediram nosso bate-papo coletivo. Mais tarde, insisti e liguei novamente para Maira. Conversamos por quase uma hora. Cada cartao dura so 30 minutos. Gastamos dois, mas faltou cartao para falar muito mais. Tudo bem, estou feliz em saber que estamos bem. Meninas, um beijo e so um pouco de juizo, ok?

Amor e Ódio

Trabalhar com política é uma experiência singular. Por um lado, é fascinante entender como as coisas funcionam nos bastidores, como tudo se articula e qual é a lógica do poder. Por outro, é extremamente cansativo operar nessa lógica. Eu pobre mortal do mundo da TV trabalho com tempo, com objetivadade, com coisas práticas. Palavras que definitivamente não são a prioridade dos partidos. O tempo que se perde discutindo o sexo dos anjos é enorme e isso atrapalha todo o operacional. Isso quando não é preciso fazer o mesmo trabalho duas ou três vezes porque cada figura do partido resolver dar sua opinião sobre o conteúdo do programa. Pra ser sincera, até agora não entendo como conseguimos transformar esse Frankstein numa Cinderela. Como os militantes não entendem o processo de TV, não levam em conta uma coisa tão preciosa para os profissionais da área de comunicação: agilidade. As decisões são tomadas, obviamente, pelos interesses do partido. Mas com uma morosidade que é inviável para a produção de um programa. É reunião para discutir os temas das reportagens, reunião para ver o material, reunião para discutir se todos estão de acordo com o que foi produzido...UFA! Enquanto isso, trabalhamos com dois computadores (apenas um com internet), um linha telefônica, sem carro e sem fitas suficiente para fazer tudo o que eles querem. No final, um cansaço enorme e uma vontade de virar anarquista.....

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Aviso aos navegantes


Estamos bem!
Lindas e ocupadas, só isso.

Imagem: www.ibiblio.org/.../auth/turner/i/temeraire.jpg

sábado, 9 de agosto de 2008

Quem Sabe Faz a Hora Não Espera Acontecer...

Há uma semana venho acompanhando a rotina - se é que é possível usar esse termo - de uma campanha política numa cidade interiorana. Achei que esse "diário" podia ser um bom termômetro para se pensar o que acontece no país atualmente. Mas, sinceramente, não sei bem como avaliar tudo que vivi nesses últimos dias. O primeiro impacto foi certamente provocado pela quantidade exacerbada de reuniões que tivemos. Reunião com os coordenadores da campanha, as lideranças, os meios de comunicação locais, os candidatos e finalmente o marqueteiro (o que provocaria as reações mais violentas dos meus amigos de Ciências Sociais). Somado a isso, a falta de organização do lugar: nada de mesa, computador, internet ou linhas telefônicas. Pensei: "Meu Deus, o que estou fazendo aqui"? Cada coisa necessária para a produção do programa - que diga-se de passagem, já estava sendo feita com atraso - tinha que passar por outra série de reuniões para pecorrer todos os trâmites burocráticos do partido. Enfim, era preciso "tirar roçado da cinza" para fazer a coisa acontecer. Mas, ela não só aconteceu como me inspirou pessoalmente. Sem os meios disponíveis para realizar o trabalho de uma forma razóavel, foi a paixão pela política que deu forma ao material que produzimos. E quando digo "paixão pela política" não estou usando só uma força de expressão. Apesar de todo o ceticismo que tenho em relação ao contexto político que vivemos, foi impressionante ver que ainda existem pessoas capazes de dar o sangue por aquilo que acreditam. De encontrar formas de vivenciar a militância que, apesar de muitas vezes vir acompanhado de um discurso ingênuo sobre a realidade, traz para si a responsabilidade de um 'fazer político'. De um ser político. É certo que numa cidade pequena os vínculos com o partido, a religião ou entre os grupos é muito maior. Mas, independente das ideologias que estavam em jogo, a participação popular nesse processo foi realmente emocionante. Ver centenas de pessoas tomarem uma praça - que até então estava deserta - num dia frio e chuvoso para gravar um vedioclipe em apoio ao candidato não me surpreendeu tanto quanto vê-las devotamente participando de todo o processo de campanha, sem pedir remuneração, vantagens ou algum tipo de barganha. Ficava me pergutando se elas realmente acreditavam em tudo que estavam vivenciando e não demorei muito para perceber que sim, elas simplesmente acreditam. Apesar da maioria das pessoas estarem alheias (e nisso eu me incluo) ao blá blá blá dos políticos de carteirinha, alguns cidadãos simplesmente não esperam mais. Elas fazem tudo acontecer.

P.S:. Ah, e para quem possa interessar: o video ficou maravilhoso!!!

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Frustração, Teu Nome Será Roberto e Caetano


Lendo blog alheio, lembrei de relatar a minha experiência tentando comprar a droga do ingresso para assistir João Gilberto. Um pouco antes das 10horas de terça-feira começou o meu calvário, que só terminou por volta de 11h15, quando consegui ter acesso ao link para a compra de um ingresso de R$ 360 - que, obviamente, não comprei.
O irônico é que eu conheço a pessoa (talvez a única) que conseguiu comprar dois daqueles ingressos de 30 reais. Ela inclusive serviu de fonte para a matéria da Folha que saiu hoje sobre o auê. E é tudo verdade: eu estava ao lado dela quando ela recebeu o email de confirmação da compra ("sujeita a disponibilidade de lugares"). As 9h30 da manhã!!! Eu bem que tentei...
Quanto ao show do João Gilberto, a frustração nem é tão grande. Tenho boas lembranças do que vi e ouvi a uns 5 anos atrás, sozinha, no Tom Brasil que ficava ali na Vila Olímpia. Estava triste, me sentindo assim, meio largada, e aquele espírito casou perfeitamente com o show.
Frustrada eu vou ficar é na próxima semana quando perder a oportunidade de comprar ingresso para ver o encontro bizarro entre a diva equivocada e o brega mais hypado do Brasil.
Eu quero. Muito!

O Ser Humano É Um Bicho Bonito


Sempre fui atraída pela beleza e pelo viço da juventude. Força e flexibilidade, juventude da pele e da expressão, características que saltam aos olhos nos moços e nas moças. Mais madura eu mesma, tenho percebido a beleza nas pessoas em geral. Confesso que em geral a beleza feminina geralmente me atraía com mais intensidade. As formas harmoniosas, os olhares cândidos, certa doçura ao caminhar. Caminhando pelo centro da cidade cotidianamente tenho olhado para todos, indistintamente. E tenho visto a beleza dos homens. Jovens ou maduros, a beleza está estampada nos rostos e nos corpos, expressões de como a mente de cada um se relaciona com seu corpo. As rugas ganham beleza no conjunto, a forma do bigode ganha historicidade relacionada ao olhar. E o ponto comum, de expressão do ser humano em cada um emana, nos traços duros de um, no olhar ingênuo de outro, na satisfação de alguns. Não procuro mais pelas qualidades apolíneas ou dionisíacas com as quais procurava me relacionar, apenas caminho e observo o que há de comum e belo.

Imagem retirada de: www.livingstonemusic.net/godmenfiles/adonis.jpg.

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Pequenas Alegrias

Nunca imaginei que desfazer as malas e poder usar minhas coisinhas, bobagens com as quais estamos acostumados (protetor solar, secador de cabelo, aquela camiseta...) fosse motivo de alegria. Parece tolice, mas é bacana perceber que no final das contas nos contetamos com pouco.

sábado, 2 de agosto de 2008

Volta Ao Mundo Da Politica Em 60 Dias

Amanhã começo nova vida em um outro lugar. Parto para o lugar "X" para gravar os programas políticos do partido "Y". Entro no mundo da política e pretendo mostrar aqui um pouco dos bastidores de uma eleição. A idéia é fazer um petit tour em uma campanha, considerando aspectos pitorescos e inusitados de um "fazer político". Sem desprezar o meio de onde se fala -que, no caso, é uma produtora de TV - interessa apresentar percepções e interpretações do discurso que é feito e como ele é feito para atingir você, amigo eleitor. Que essas humildes reflexões sirvam para entreter, pensar e (re) criar seu lugar nesse país. Ou, pelo menos, para indigná-lo ainda mais ...

quarta-feira, 30 de julho de 2008

Cais Bar



Cais Bar tinha o horizonte e a promessa de felicidade. Não era somente um bar, Cais Bar era o lugar que elegi para me criar. Localizado na Praia de Iracema, em Fortaleza, foi nesse lugar que eu conheci a poesia, a autêntica música brasileira, os primeiros amores e também as longas esperas. O proprietário era obcecado por música e fez de lá um templo para seu culto. Instrumentos musicais eram expostos como santos. A música moldurava o pôr-do-sol e as pessoas comungavam “feijoada com chorinho”. Nas paredes, panéis com as caricaturas dos maiores intérpretes e músicos do Brasil. E, com tudo isso, a paisagem era apenas um terceiro elemento: a luz da aurora como cenário de um lugar santo. Todos os fins de semana eu ia a esse ritual sagrado. Aos sábados, os músicos começavam a tocar na hora do almoço até alcançar o outro dia. A noite passava com alegrias sutis e havia o momento em que o corpo descansava porque o espírito se erguia. Afinal, o que realmente importava era a comunicação que havia além das palavras. Era a hora em que o mundo esperava, que o ar congelava e tudo simplesmente existia. Momento que o homem era mais que um homem. E que não era preciso pensar sobre a luta de classes, a natureza humana ou sobre o céu e o inferno.
Alguns dias eram mares bravios, outros luas repousantes. Segunda era o dia da apresentação dos músicos regionais. Poetas, artistas, intelectuais e estudantes se encontravam na cumplicidade de uma mesma busca. Era quando o silêncio dominava e algum artista tardio atravessava as escadas do cais. O coração batia ao reconhecê-lo e as palavras se desenvolviam no nada. Era nesse período de vazio, sem promessas, que o espírito se alçava e voava livre. Só se ouvia o próprio sentimento e a música tocava novamente, não como o fim de um silêncio, mas como o auxílio bendito de uma outra adoração.
Cais Bar era meu lugar no mundo. Um bar que me apresentou as coisas e os valores que atualmente trago em mim. Saí de Fortaleza, mas continuei a freqüentá-lo nas férias. Os garçons se tornaram grandes amigos e sempre me senti voltando para minha própria casa. Mas houve o progresso e tudo mudou. A região onde estava o Cais Bar foi afetada diretamente pelo turismo institucional. Em lugar da música, meninas eram vendidas por alguns dólares. “Meu bar” foi um dos últimos pontos de resistência. Em plena época de alta temporada fechou as portas e se manifestou contra o turismo sexual e predatório. No entanto, não conseguiu se manter com as exigências desse novo contexto. Enquanto a cidade se desenvolvia, meu lugar sucumbia. Cais Bar agonizava na medida em que eu perdia a minha fé. O lugar morreu assim como também morreram todas as minhas ilusões. Atualmente, vivo na ‘selva de concreto’, mas é inútil esquecer: há uma ausência. A falta de um lugar onde se encontra a si mesmo. Inútil fugir para outra cidade, pois viver à margem da orla e das estrelas não substituirá a memória do que fui e do que senti. Atualmente, a noite de Fortaleza não tem o mesmo encanto e a lua reflete apenas a sombra de um lugar que já padeceu. Ao invés de Cais Bar prevalecem espaços simulados e as recordações de um tempo que passou. Assim mesmo guardo uma certeza: há um modo mais leve de existir.

terça-feira, 29 de julho de 2008

Hip Hopeless?

"O rap, assim como o pagode, é um ritmo mais comum entre as pessoas de classe social mais baixa". (Wikipédia). A frase, uma das definições contidas na enciclopédia livre eletrônica, dá uma boa noção da polêmica que envolve o que outrora foi denominado "ritmo e poesia". Então, tá. Rap é coisa de pobre e (oops, eu disse!) preto? De gente de um mundo bizarro, que solta um "cerrrto, mano" a cada meia frase e que sonha com carrões e mulherada - ou com um macho cheio de correntes pra chamar de seu? Bem, basicamente, sim.
E não.
Não me lembro a primeira vez que ouvi um rap. Lembro apenas que tinha absoluta consciência de que era algo que nunca, jamais, em hipótese alguma, seria tocado nas festinhas do colégio da vida toda, na Vila Mariana. Mas que era o som ouvido mais e mais nas festinhas promovidas pelos filhos dos amigos da família e nos lugares em que essa galera frequentava junta. Naquelas festas, o bailinho - sorry, eu tenho mais de 30 - era dançado ao som de Don't Dream It's Over, do Crowded House. Nestas, a troca de vassouras se dava ao som de I Wanna Be Your Man, do Zapp. Ok, ok, unidos pelo brega. Mas, tem noção???
O rap profissional, dono da grana hoje, é constrangedor. Por causa dele, eu tive de resgatar um cd esquecido no carro de um ex porque algumas letras davam vergonha, juro! Confesso que ver esses gringos fantasiados, cantando no meio de duas bundas - uma de cada lado do vídeo - me dá um pouco de preguiça. Assim como alguns brazucas raivosos e sexistas. Afe!
Mas existe coisa boa por aí. E isso até o fofo do Michel Gondry - aquele de Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças - sabe. Dá uma olhada num documentário chamado Dave Chappelle's Block Party. Esqueça as bobagens do "comediante" Chappelle e tente ouvir gente como Erykah Badu, Jill Scott, Lauryn Hill, Mos Def, The Roots, Common, Talib Kweli e Dead Prez de mente aberta. Ou não.
Brown Sugar, um filme de 2002 que você não viu e que foi febre entre a galera que gosta de rap, tem encontros e desencontros pontuados por uma única frase: "When did you first fall in love with Hip Hop?"
No meu caso, tentar adivinhar elementos de músicas que ouço desde bebê em outras, mais modernas e cheias de energia, é diversão pura. Saber de cor e a quatro vozes (lembra, Fê?) a letra de Voz Ativa, também. Ou descobrir, aos 14, que Elvis não era um herói nem pra mim nem pra ninguém de um lugar chamado Brooklin, em Nova York, num verão de 89, simplesmente não tem preço.





segunda-feira, 28 de julho de 2008

domingo, 27 de julho de 2008

O Dia Em Que Charlotte Não Partiu...

Essa semana acompanhei Charlotte ao aeroporto. Nos despedimos emocionadas, falamos o que dava para ser dito naquele momento e vi minha grande amiga embarcar. Mas Charlotte não foi ao Canadá. Charlotte trouxe o Canadá até mim. Minha casa está repleta de Charlotte e do país que agora ela habita. Charlotte está no prédio, na minha cozinha, no meu computador. Está saltando no meio da noite e cantando como no Cirque du Soleil: "Alegria!". Ou balançado de um lado pro outro como um 'boneco de posto' fazendo os amigos chorarem de rir. Charlotte está aqui exatamente do jeito que sempre foi. Insistindo em me trazer pro chão usando o método "PEI, PEI". E continua me chamando pelos dois nomes quando quer minha atenção. Eu e ela seguimos a mesma rotina de cinema e café num pérpetuo Domingus Continum. Porque Charlotte não se foi. Charlotte está em mim. Ela povoou meu país deserto e ocupou uma área devastada do meu coração. E Charlotte continuará desbravando desertos e descobrindo mares de onde estiver. Mas, por favor, não me digam que Charlotte foi embora. Ela está um pouco mais distante dos seis andares que nos separava. Mas permanecerá rondando a minha casa, minha história e minha vida. Minha bebéia fica por mais que seu corpo se vá !!!

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Winter Is Blue

A Stela Campos é a verdadeira mina do folk, como já disseram. Mais do isso, é uma super querida. Por termos passado um tempo juntas eu posso dizer que ela gosta muito do que faz. Gravou Céu de Brigadeiro, de 1999, Fim de Semana, de 2002, e Hotel Continental, de 2005. Neste último, eu estava por lá e vi e ouvi tudo! Dizem por aí que o novo disco foi gravado em 48 horas (eu disse ho-ras) e só falta mixar. O lançamento está próximo, aguardem.
Tenho certeza de que ela não vai lembrar. Mas o pinguinzinho que me deu quando fui embora está na minha mesa até hoje. Waiting for better winters.


quarta-feira, 23 de julho de 2008

Pequenas e Grandes Alegrias Cotidianas

Li recentemente um texto budista que fazia uma analogia entre a poluição do ar e os nossos pensamentos destrutivos. O ar não deixa de existir em sua pureza porque existem partículas poluentes. Elas são, em última instância, irreais. Assim como os pensamentos que distraem a mente.
O céu passou a ser mais vasto depois disto, e, à minha percepção, ouvindo a bela sinfonia nº 5 de Bethoven outra noite, regando as plantas, o céu apresentou-se gigantesco, vívido, encantado. A Lua mostrava-se cheia, resplandecente, e o brilho das estrelas iluminava minha aura. Foi como a união do tempo e do espaço.
Sou grata a estas epifanias, e também à felicidade nos pequenos encontros, descobertas e atitudes cotidianas. O encontro com novos e doces amigos, a descoberta de valorosas afinidades com uma colega de trabalho, uma rotina mais estimulante de trabalho, uma alimentação saudável, o alongamento da musculatura interna e o dizer-me neste espaço têm me trazido luz e suavidade, surpreendentes e gostosos presentes.

terça-feira, 22 de julho de 2008

Lembranças De Uma Amiga...


Alguma dor chegou misteriosa e calma
E eu, náufraga de rasa água, com uma agonia mansa
Que mais parece cachorro quando geme de fome
Bicho que ao crepúsculo é terrível gigante
A matar-me lenta e impiedosamente
E que nesses dias rebeldes e ardis
Dorme em alguma secretíssima caverna.

segunda-feira, 21 de julho de 2008

I Wish You Love

Ando pensando sobre os finais de relacionamento. Acho que eles deveriam ser tão importantes quanto o começo. As pessoas deveriam ser tão cuidadosas quanto, pelo menos. É óbvio que eu não estou me referindo aos relacionamentos que terminaram com desrespeito de qualquer espécie - aquele cara que te deixou, devendo grana, carinho ou bom senso. E sim àquelas histórias que terminaram porque as pessoas deixaram de se curtir. Ou porque simplesmente a história não dava mais. Ou não tinha como. Tive um sonho horroroso na noite passada. Daqueles que você acorda suada, confusa e com lágrimas nos olhos. Não quero mais ter esse tipo de pesadelo. Na próxima noite, vai ser um finalzinho de tarde fresco, de um pôr-do-sol alaranjado. Vou pegá-lo pela mão e levá-lo a uma estação antiga, bem conhecida por nós dois. Antes que ele suba as escadas do trem, vou lhe dar um abraço forte, um beijo no rosto. Uma lágrima pode até descer, mas eu decidi que vou culpar o vento. Por causa de uma piscadela dele, sentirei que é mesmo o fim, mas que não fiquei nem menos bonita, nem menos interessante por conta disso. Apenas distante. Vai ser um esforço delicado e conjunto. Para que a gente possa ir em paz.


domingo, 20 de julho de 2008

Um Caco Barcellos Para Chamar De Meu...

Meu domingo tinha tudo para ser mais um domingo como outro qualquer se não fosse por ele...Na capa da Trip ele me olhava como quem diz: "Agora posso ser todinho seu". E não resisti. Ele só pra mim. Aquele rosto tão conhecido da telinha agora era minha propriedade por apenas R$ 9,90. Em casa despi as páginas com a urgência, esperando que me desse um grande 'furo'. E eis o que se dá. Entre uma resposta e outra, Caco Barcellos me falava do que eu era. Da jornalista que pretendia ser e não fui, da idealista que se perdeu na montanha de contas para pagar e da falsa idéia de trabalho que eu construí pra mim. Para me desculpar daquilo que não fui ou do que não me tornei, me perguntei se atualmente é possível - ou viável - fazer aquilo que ele faz (e fez) tão bem. Lembrei da jovem universitária que o colocou num patamar para ser adorado e copiado, que lia o "Rota 66" vinte vezes para tentar absorver um pouco do que ele era e de como vivia a profissão. Senti falta daquela garota romântica, que tinha tanto medo de errar que errou. Mas ele compreensivamente respondeu: "Não perca tempo com medos indevidos". Não sei como continuar, Caco, e nem se quero continuar... Não sei se ainda posso me tornar você ou se continuo aos trancos e barrancos sendo apenas eu. Mas como você mesmo diz quero que a minha vida dê uma boa história. E, talvez, dessa forma eu consiga olhar para trás como a mesma dignidade que apreendi de você.

Música é o Melhor Remédio

As tardes frias do inverno (mesmo quando suave) convidam a uma melancolia irresistível. Caminhar pelo centro da cidade no final de uma tarde destas é como vagar entre diversos lugares da solidão. Estranhamente caminha-se ao lado de dezenas, talvez centenas de outras pessoas. Mas o sentimento de solidão que os tempos da cidade evocam está na pele, na mente, no caminhar. A vista do Teatro Municipal é sempre lírica e comovente, de repente os arquétipos do mundo ocidental aconchegam-se no espírito e a solidão já não é mais tão interessante. Já no ônibus, na Avenida São João, uma lembrança. Há música no ar! Pode ser sintonizada pelo rádio. Na 103,3 sou brindada com uma valsa. Suspiro. Basta um instante para imaginar o moço mais encantador que conheço sorrindo à minha frente, aproximando-se, com sua graça e doçura, e voilà, estamos valsando! Observo os passageiros do ônibus, quero convidá-los a valsar. À minha frente, um reflexo no espelho. Enfim, um grande, folgado e delicioso sorriso.

sábado, 19 de julho de 2008

Poderosa Ísis


Principal Concorrente Da Mulher Maravilha